sexta-feira, 7 de março de 2008

Augusto dos Anjos

VERSOS ÍNTIMOS
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Ricordanza Della Mia Gioventú

A minha ama de leite Guilhermina
Furtava as moedas que o Doutor me
dava.
Sinhá-Mocinha, minha mãe, ralhava...
Via naquilo a minha própria ruína!
Minha ama, então, hipócrita, afetava
Suscetibilidades de menina:
- Não, não fôra ela! - E maldizia a sina,
Que ela absolutamente não furtava.

Veja, entretanto, agora, em minha
cama,
Que a mim somente cabe o furto
feito...

Tu só furtaste a moeda, o ouro que brilha...
Furtaste a moeda só, mas eu, minha
ama,
Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para a tua filha!

Para apreciar outros poemas magníficos de Augusto dos Anjos, clique:

http://www.biblio.com.br/conteudo/AugustodosAnjos/augustodosanjosobras.htm

Vida do poeta

Augusto dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, município de Cruz do Espírito Santo (Paraíba). Foi educado nas primeira letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de idade. Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907.Em 1910 , casa-se com Ester Filiado. Segundo Ferreira Gullar, entrou em contato com leituras que iriam influenciar sua visão de mundo, expressa em sua poesia. Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico, mas, que também não contestava a essência espiritualistica para contra-por, principalmente, os ideais iluministas que, endeusando-se, levantavam-se na sua época. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade de viver é a única saída para o ser humano. Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-capitalista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte. Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 30 de outubro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 29 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia. Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.

Curiosidades Biográficas

*Um personagem constante em seus poemas é um pé de tamarindo que ainda hoje existe no Engenho Pau d'Arco.

*Seu amigo Órris Soares conta que Augusto dos Anjos costumava compor "de cabeça", enquanto gesticulava e pronunciava os versos de forma excênctrica, e só depois transcrevia o poema para o papel.

*De acordo com Eudes Barros, quando morava no Rio de Janeiro com a irmã, Augusto dos Anjos costumava compor no quintal da casa, em voz alta, o que fazia sua irmã pensar que era doido.

*Embora tenha morrido de pneumonia, tornou-se conhecida a história de que Augusto dos Anjos morreu de tuberculose, talvez porque esta doença seja bastante mencionada em seus poemas.

Para saber mais, clique:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos

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