sexta-feira, 30 de maio de 2008

Carlos Chagas


Índios: uma operação orquestrada


Enquanto o Supremo Tribunal Federal prepara-se para decidir a questão constitucional da reserva indígena Raposa-Serra do Sol, se o território deve ser contínuo ou não, grupos certamente minoritários de diversas tribos dedicam-se a contestar a lei capaz de garantir seus direitos. Assistem-se a invasões inusitadas, só esta semana, em Curitiba, Belo Horizonte e Cuiabá, cidades que certamente não se prestam à transformação em reserva exclusiva das populações indígenas.
Na capital do Paraná foram dois prédios públicos ligados ao Ministério da Saúde, lá permanecendo cem funcionários como reféns. Próximo da capital mineira, duzentos índios interditaram a rodovia estadual onde trafegam caminhões da Vale do Rio Doce. Na capital do Mato Grosso, mais invasões de prédios públicos.
A crônica das últimas semanas revela dezenas de incursões parecidas em outros estados, inclusive aquela em Altamira, no Pará, onde um engenheiro da Eletronorte foi agredido e esfaqueado.
Muita gente pergunta se essas manifestações truculentas não são orquestradas, se não obedecem a uma estratégia. Seria muita coincidência se fossem espontâneas. E a quem interessa, senão o crime, por enquanto, ao menos a agitação?
Os órgãos de inteligência do governo já devem ter detectado a trama, não errando quem supuser a presença de um monte de ONGs empenhadas na transformação de tribos em nações, para logo depois tornarem-se independentes. Só que o objetivo delas é a Amazônia, jamais o Paraná, Minas ou Mato Grosso.
Então... Então, começa a emergir um raciocínio suplementar: a baderna promovida por grupos indígenas no País inteiro, milimetricamente estimulada, visa preparar manifestações maiores e mais explosivas caso o Supremo Tribunal Federal interrompa a reserva contínua, em Roraima. Seria a hora de dar um passo à frente na marcha para a contestação da soberania brasileira na região mais rica do planeta.

A Anistia esqueceu a anistia


Repercutiu de forma negativa no Congresso o último relatório da Anistia Internacional, que a respeito do Brasil não perdoa. Acusa o governo federal e governos estaduais de executarem "operações policiais militarizadas, exercendo violência, discriminação, corrupção e descontrole". A referência vai para a ação das polícias militares, em especial do Rio e São Paulo, no confronto com o narcotráfico e penduricalhos do crime organizado.
Pretenderia a Anistia Internacional que o comércio de tóxicos fosse combatido por um batalhão de freirinhas, ou um contingente de congregados marianos?
Segue-se uma referência à falta de garantias de direitos humanos básicos para os trabalhadores na execução das obras do PAC. O relatório cita a pavimentação de estradas e a construção de represas próximas das terras dos índios como lesivas aos direitos humanos. Alhos são misturados com bugalhos, com muita malícia, como se desejassem os mentores da associação que nossas rodovias continuassem esburacadas e a população do interior permanecesse iluminada a velas.
Por último, ainda que nas entrelinhas, sugere a Anistia Internacional a abertura de processos criminais contra quantos participaram de atos de tortura no período da ditadura. Por mais amargo que seja, por mais que nos revolte, por mais que nunca devamos esquecer nem perdoar, vale lembrar ter sido a anistia a solução encontrada pelo Brasil para restabelecer a democracia.
Acresce que revolver o lixo fétido dos anos de chumbo exigiria uma pá com duas faces. Melhor será utilizá-la para cobrir o entulho, como vem sendo feito a tanto custo. Até porque, tão lamentável quanto aquelas práticas do passado são as do presente. Que tal a Anistia Internacional promover uma devassa no que acontece em Guantanamo?

Assim é demais


Ataca novamente o Ministério da Saúde, prestes a substituir as hediondas imagens postas obrigatoriamente nos maços de cigarro por outras mais horrorosas ainda.
O cigarro faz mal? Faz. Mata. É abominável? É. A fumaça incomoda a maioria dos não fumantes e será capaz, até, de merecer a acusação de contribuir para o aquecimento global. Só que tem um problema: querem acabar com o cigarro? Então que proíbam o funcionamento das fábricas. Que estabeleçam um plano de substituição do plantio das folhas de fumo por rabanetes.
O que não dá é aceitar sem estrilar o farisaísmo do combate ao fumo através da agressão aos fumantes com fotografias de cidadãos estropiados, bebês natimortos, feridas abertas e sucedâneas. Porque fechar fábricas desequilibrará a economia nacional e até mundial.
O cidadão que compra um maço de cigarros quer apenas os próprios, não pode ser obrigado a levar para casa ou colocar no bolso as desgraças universais. Fosse assim e imagens muito mais chocantes deveriam substituir os rótulos das garrafas de bebidas alcoólicas, os tubos de pasta de dentes, que em certos casos geram o câncer, ou, last but not least, estampar essa desgraceira nos pára-brisas dos carros saídos das montadoras, porque os veículos matam mais do que os cigarros.
Vai aqui o apelo de um ex-fumante: à maneira do que os romanos de antanho faziam com os gladiadores, tratem pelo menos com respeito os que vão morrer...

Apertem os cintos, vem turbulência


Quem conversou com a ex-ministra Marina Silva nos últimos dias saiu com a impressão de que revanchismo não faz parte de seus planos, quando, na próxima semana, reassumir a cadeira no Senado. Mostra-se disposta a integrar-se por completo na bancada do PT, ainda que nem tanto às diretrizes da líder Ideli Salvatti, que jamais engoliu seu brilho e sua competência.
Agora tem um adendo: Marina só votará os projetos que satisfizerem sua consciência. Não será marionete dos companheiros. Uma prova de fogo pode estar próxima, se a Câmara aprovar a nova CPMF e o projeto ganhar o Senado...



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