quarta-feira, 28 de maio de 2008

Energia

Integração sul-americana
Nilder Costa

O bem sucedido leilão da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, tem um significado que vai muito além da importante geração de 3.300 MW para o sistema elétrico nacional. Em primeiro lugar, o equacionamento da parte nacional do chamado Complexo do Rio Madeira (usinas de Santo Antônio e Jirau, somando 6.450 MW), demonstrou a viabilidade socioeconômica de se construir megahidrelétricas na Amazônia por meio de uma engenhosa parceria público-privada que pode, evidentemente, ser repetida e aperfeiçoada para outros empreendimentos de grande porte na região. Recorde-se que haviam dúvidas sobre tal viabilidade em função das enormes distâncias aos centros consumidores de cargas e também dos onipresentes obstáculos com licenciamentos ambientais. Comprovou-se que não apenas o processo de licenciamento e as alternativas encontradas para diminuir o impacto ambiental representam experiência a ser incorporada nas demais usinas na região, mas que houve também uma expressiva queda no custo de investimento, anteriormente girando em torno de US$ 1.800 por MW e agora inferior a US$ 1.200. [1] Encorajado pelo sucesso, o governo sentiu segurança suficiente para confirmar o plano de licitar sete outras grandes hidrelétricas nessa nova fronteira energética nos próximos quatro anos e que somam impressionantes 27 mil MW. Em segundo lugar, abriu caminho para a complementação da parte internacional do Complexo do Rio Madeira. Na véspera da realização do leilão de Jirau, os governos do Brasil e Peru fecharam um acordo para a construção de uma hidrelétrica binacional em território peruano, com capacidade instalada de 1,4 mil MW. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, as obras serão iniciadas no ano que vem e devem durar 3,5 anos e que o investimento total deverá ser de R$ 2 bilhões. “As obras serão tocadas por uma das subsidiárias da Eletrobrás, uma construtora brasileira e uma empresa peruana”, disse o ministro. Adicionalmente, os dois países assinaram um protocolo de intenções para a viabilização, a longo prazo, de mais 14 usinas no Peru que poderão operacionalizar outros 20 mil MW. De fato, esse acordo Brasil-Peru é um movimento da política brasileira para a integração energética da América do Sul que inclui a construção de outras hidrelétricas binacionais e intercâmbios de energia. O ministro Lobão revelou que acertou com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, o desenvolvimento de um plano para exploração de rios que ficam na fronteira dos dois países e o uso da energia em parceria. Segundo ele, a Bolívia tem o mesmo interesse. Com a Venezuela, o Brasil fez um acordo de intercâmbio de energia em que, anualmente, serão trocados de 2 mil a 3 mil MW elétricos entre os dois países, que têm regimes de chuva diferenciados. “Quando está chovendo muito na Venezuela, chove pouco no Brasil e vice-versa”, explica o ministro, agregando que será necessário aumentar a capacidade da linha de transmissão que corta os dois países, com capacidade atual de 200 MW. Mas a Venezuela também vai exportar gás liquefeito para o Brasil, que será transformado em gás natural. “Poderemos transportar o gás por navios por todo o Brasil, o que facilita muito. Enquanto isso, vamos construindo gasodutos nacionais para atender a diversas cidades brasileiras”, disse Lobão, segundo o qual existe interesse da Venezuela na construção do Gasoduto do Sul, que irá ligar os dois países mais a Argentina. “Conversei pessoalmente com presidente Hugo Chavez e acertamos que o Gasoduto do Sul é uma possibilidade desejada para Venezuela e aceita perfeitamente pelo Brasil. Devemos apenas tomar precauções quanto a mercado consumidor tanto no Brasil quanto na Argentina”, complementou Lobão. Essas declarações de Lobão ocorreram por ocasião do Fórum Global de Energia Renovável, realizado em Foz do Iguaçu (PR) entre os dias 18 e 21 passados. No evento, Carlos Arturo Flórez Piedahita, secretário-executivo da Olade (Organização Latino-americano de Energia) afirmou que a integração é a maneira mais adequada para o aproveitamento dos potenciais energéticos da América Latina. Segundo ele, o consumo de energia na região crescerá 73% até 2018, com a oferta de energia pulando de 5,1 bilhões de barris equivalente de petróleo, em 2006, para 8 bilhões de beps naquele ano. “Teremos um aumento de participação da indústria no consumo e redução do residencial e transporte”, observou Piedahita. A matriz energética da região vai mudar pouco ao longo da década, enquanto petróleo e derivado perdem participação – de 42% para 35% -, gás natural (26% para 32%), biocombustíveis (1% para 3%) e hidráulica (9% para 15%) crescerão. [2]Porém, “No caso de haver uma maior integração, a participação hidráulica crescerá para 19%”, ressaltou Piedahita. O fato é que, em seu conjunto, a América do Sul é autosuficiente em energia, tanto para as suas necessidades atuais quanto futuras. Cabe ao Brasil a à Argentina, as duas maiores economias do sub-continente, promover as necessárias condições para que o setor energético seja um dos principais vetores para a almejada e necessária integração estratégica da região.
Notas:
[1] Jirau reforça geração na Amazônia, O Estado de São Paulo, 18/05/2008
[2]Integração é solução para aproveitamento dos potenciais energéticos da América Latina, Canal Energia, 19/05/2008

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