domingo, 25 de maio de 2008

Festival de Cannes

Francês Cantet é o grande vencedor; o Festival também premia atriz brasileira

O filme “Entre les Murs” ("Entre Paredes"), do diretor francês Laurent Cantet, foi o grande vencedor da 61ª edição do Festival de Cannes ao ser escolhido, por unanimidade pelo júri, o vencedor da Palma de Ouro, o mais importante da noite. A cerimônia de premiação, realizada neste domingo (25) na Riviera francesa, também reservou uma surpresa para o Brasil: Sandra Corveloni ganhou o prêmio de melhor atriz, por seu papel em “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas.
O prêmio foi entregue pelo ator francês Jean Reno às mãos dos dois diretores do longa-metragem, já que Sandra não saiu do Brasil. "Estou orgulhoso por fazer parte do cinema brasileiro e orgulhoso por ver o prêmio ser recebido por uma atriz estreante no cinema", disse Salles. Daniela falou em português e enviou uma mensagem de solidariedade à atriz, que não pôde viajar porque perdeu o bebê que estava esperando.
Inspirado em grande parte por fatos reais, "Linha de Passe" conta a história de quatro irmãos que buscam seu caminho na vida. De pais diferentes, os quatro vivem com sua mãe (Corveloni), empregada doméstica que espera outro filho. Egressa do teatro, Sandra não foi a primeira brasileira a triunfar em Cannes – anteriormente, Fernanda Torres ganhou como melhor atriz em 1986 por "Eu Sei que Vou Te Amar".

Exibido no sábado, último dia de competição, "Entre les Murs" arrancou desde o final de sua exibição elogios entusiasmados da crítica. Dotado de veia documental, o longa é uma adaptação do livro autobiográfico de François Bégaudeau, que, não por acaso, também interpreta o personagem principal.

O filme retrata o cotidiano de um professor numa escola da França, em uma época em que o país apresenta demonstrações claras de xenofobia e conflitos de inspiração social. De acordo com a imprensa, o forte da obra de Cantet (diretor de "A Agenda" e "Em Direção ao Sul") é justamente reproduzir esse contexto no microuniverso escolar.

Com esta Palma de Ouro, o prêmio volta para a França, país que não ganhava desde 1987, com "Sob o Sol de Satã", de Maurice Pialat. Assim como para a brasileira Sandra Corveloni, o júri presidido por Sean Penn também concedeu o prêmio de melhor ator a um latino. O vencedor foi o porto-riquenho Benicio Del Toro, protagonista de “Che”, épico dividido em duas partes sobre o revolucionário Ernesto Che Guevara dirigido por Steven Soderbergh.
O cinema italiano, em crise há anos, surpreendeu com "Gomorra" e "Il Divo", muito bem recebidos em Cannes, tanto que ganharam o Grande Prêmio do Festival – predecessor da Palma de Ouro, concedido para "Gomorra – e o Prêmio do Júri, o segundo mais importante do evento, entregue para "Il Divo".
O cineasta turco Nuri Bilge Ceylan ganhou o prêmio de melhor diretor por seu trabalho em “Os Três Macacos” (“Uç Maymun”), um dos filmes mais aplaudidos pela crítica no festival, e também cotado para a Palma de Ouro.
O artista multimídia Steve McQueen (e homônimo do ator norte-americano) venceu o "Câmera de Ouro", prêmio para novos realizadores. “Hunger”, que já havia ganho o prêmio da Crítica, é o relato da greve de fome fatal do militante do IRA Bobby Sands. O filme havia participado da mostra “Um Certo Olhar”, ao lado de “A Festa da Menina Morta”, de Matheus Nachtergaele, e “Afterschool”, do brasileiro-americano Antonio Campos, que saíram de mãos vazias.
Um prêmio especial foi entregue pelo júri ao diretor e ator Clint Eastwood, que concorreu neste ano na competição principal por "The Exchange", e à atriz francesa Catherine Deneuve, por seu papel em "Um Conto de Natal".
Exibido na abertura de Cannes, "Blindness - Ensaio sobre o Cegueira", de Fernando Meirelles, que, assim como "Linha de Passe", concorria na competição principal, saiu sem nenhum prêmio da França, nem mesmo a esperada consagração da atriz Julianne Moore.
Esta edição do festival foi, na opinião da maioria da crítica, mais heterogênea do que a de 2007. Uma boa parte dos filmes, no entanto, foram marcados pela sedução, principalmente os assinados pelos americanos Clint Eastwood e Steven Soderbergh, o turco Nuri Bilge Ceylan, o francês Arnaud Desplechin, o argentino Pablo Trapero e até os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas.

Confira abaixo a premiação completa da 61ª edição de Cannes:

Palma de Ouro: "Entre les Murs", de Laurent Cantet
Grande Prêmio: "Gomorra", de Matteo Garrone
Prêmio do 61° Festival de Cannes: Catherine Deneuve, por "Um Conto de Natal", e Clint Eastwood, por "The Exchange"
Melhor direção: "Üç Maymun" ("Os Três Macacos"), de Nuri Bilge Ceylan
Prêmio do Júri: "Il Divo", de Paolo Sorrentino
Melhor Ator: Benicio del Toro, "Che"
Melhor Atriz: Sandra Corveloni, "Linha de Passe"
Melhor Roteiro: "O Silêncio de Lorna", de Luc e Jean-Pierre Dardenne
Câmera d’Or: "Hunger", de Steve McQueen
Menção Especial: "Ils Mourront Tous Sauf Moi", de Valeria Gaï Guermanika
Palma de Ouro para curta-metragem: "Megatron", de Marian Crisan
Com informações da AFP e EFE


Pescado no YouTube, o vídeo a seguir mostra cenas da peça ”Amargo Siciliano”, na qual o Grupo Tapa encena três obras inéditas no Brasil do italiano Luigi Pirandello. Quem assina a direção, ao lado de Eduardo Tolentino, é Sandra Corveloni, que ganhou hoje o prêmio de melhor atriz em Cannes por “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniella Thomas. Em cartaz no Viga Espaço Cênico (tel. 11/3801-1843), em São Paulo, a peça é uma boa forma de conhecer o trabalho de Sandra, veterana do teatro, antes da estréia de “Linha de Passe” no cinema. E também uma prova de que a Palma não caiu do céu. Fica o registro e a homenagem a Sandra pelo prêmio.

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