quinta-feira, 22 de maio de 2008

África do Sul



A luta contra o apartheid
Por John Pilger

Quando voltei à África do Sul após a queda do apartheid, pedi a Ahmed Kathrada para levar-se a Robben Island. Conhecido afetuosamente como Kathy, ele usava óculos escuros para encobrir os olhos danificados pelo brilho da pedra calcária que ele e Nelson Mandela agüentaram durante décadas. Ele mostrou-me a sua cela, de um metro e meio por um metro e meio, onde "a luz era sempre brilhante, dia e noite". Admirei-me como foi possível sair de um quarto de século de encarceramento como um ser humano são, equilibrado, tolerante e simpático. Suas razões incluíram os ensinamento de Gandhi e o apoio dos seus seres amados, mas, acima de tudo, "havia a luta, sem a qual nada muda". Este sentido de luta está de volta na África do Sul. No outro dia encontrei-me com o escritor Breyten Breytenbach, que passou oito anos na prisão sob o regime do apartheid. Ao falar no festival "Time of the Writer", em Durban, evocou os "sonhos" dos grandes combatentes da libertação Steve Biko e Robert Sobukwe. "Como iremos travar este 'progresso' aparentemente irreversível da África do Sul para um Estado totalitário de um partido?", perguntou. É uma pergunta que muitos se fazem num país que agora tipifica um apartheid econômico imposto por todo o mundo sob a cobertura do "crescimento econômico" e liberal, no jargão corporativo. Por "democracia", leia-se socialismo para os ricos e capitalismo para os pobres. "Por "governação" e "modernidade", leia-se um sistema de divisão e pilhagem concebido e aprovado em Washington, Bruxelas e Davos — um sistema no qual, diz o ministro sul-africano das Finanças, Trevor Manuel, "os vencedores florescem". E ele fala de um país onde a desigualdade e a pobreza são descritas como "desesperadas", onde o governo do ANC permitiu às mais vorazes companhias do mundo que escapassem a reparações pelo envenenamento da terra e do seu povo, e que foi induzida pelas companhias britânicas de armamento à compra de 24 jactos de combate Hawk, cada um deles a 17 milhões de libras (21,4 milhões de euros), "de longe a opção mais cara", segundo um relatório da Câmara dos Comuns. O Department for International Development (DfId) britânico desempenhou um papel destacado. Embora lhe seja exigido por lei não gastar dinheiro senão na redução da pobreza, o DfID é, na realidade, uma agência de privatização que lubrifica o caminho para que multinacionais tomem o comando de serviços públicos. Em 2004 o departamento pagou ao Adam Smith Institute, um think tank de extrema direita, 6,3 milhões de libras (7,9 milhões de euros) para que elaborasse planos de "reforma" do "sector público" na África do Sul, promovendo ligações "business-to-business" entre companhias britânicas e sul-africanas cujo único interesse é o lucro.

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