sexta-feira, 23 de maio de 2008

Rui Nogueira

Racismo da Funai

Mais uma vez, se evidencia o surrealismo que impera no Brasil, com o desprezo pelas construções refletidas e a perda dos encadeamentos lógicos. Como pode o presidente da Funai dizer que a política indigenista aplicada atualmente é a mesma sob inspiração do Marechal Rondon. Que absurdo! O lema do Marechal Rondon era "integrar para não entregar", quando hoje, ao que tudo indica, predomina o segregar para entregar. E inimaginável que Rondon sequer admitisse a sórdida campanha atual de retirada dos "não-índios" de territórios que são brasileiros. Vejam a situação inadmissível denunciada por Wilson Barbosa pela Assembléia Legislativa de Roraima: mãe indígena não pode voltar para a reserva (Raposa do Sol) com filhos de pai branco. A Assembléia Legislativa de Roraima, na pessoa de seu assessor jurídico Cláudio Teotônio, está orientando a indígena (Cacilda Brasil) a conseguir a sua permanência na Reserva Terra do Sol. A índia brasileira afirmou que tem documentos que comprovam a propriedade de 1.800 hectares na vila Socó, datados de 1936, quando seu esposo, já falecido, nasceu na região. Não pode voltar à área com seus filhos, porque são filhos de branco!!! Absurdo! Isso é racismo! Mais grave que tudo, está inserido numa política oficial do governo atual! Vimos um filme documentário que mostra a Polícia Federal quebrando o cadeado da porteira de uma fazenda em Roraima, em ação sem excesso ou truculência, para abordar família moradora e declarar: - A senhora é índia, pode ficar. O senhor tem documento oficial brasileiro, tem que sair (não é considerado índio, ora vejam). Na ocasião da apresentação do filme um delegado presente, defendeu-se afirmando que tudo era feito dentro da lei. É verdade, mas isto se enquadra no surrealismo que impera no nosso País, pois não é coerente nem lógico. A ação se apóia em leis que têm sido estranhamente aprovadas, legitimando absurdos. Se exista a ação legal baseada em leis espúrias, mesmo assim elas não deixam de ser imorais. É urgente questionar a política da Funai, do Ministério da Justiça e do governo, que, na prática, estabelecem uma sórdida situação de racismo. Porque o Ministério da Justiça não toma providências quanto as irregularidades demonstradas e provadas pela CPI do Senado Federal - 2002, com relação ao Conselho Indigenista de Roraima (CIR), com ligações com o estrangeiro que lidera e estimula o movimento de segregação e a criação de gigantescas demarcações para meia dúzia de índios. A demarcação dos "ditos Ianomâmis" com mais de 96 mil quilômetros quadrados, na última campanha de vacinação da Funai revelou 3.600 índios. Ao que afirma a Funai há um plano de substituir a cadeia de produção construída por brasileiros roraimenses e arrozeiros. Isso mostra que não é mais preservar a cultura indígena, mas enveredar por um "direito econômico (sic)". Com quem e para quem? Vale ressaltar que, nas manifestações feitas por mlitares nunca há a observação de que o índio é uma ameaça, pelo contrário, sempre tem havido uma convivência e integração pacífica entre brasileiros índios e amazônidas como fruto do "integrar para não entregar" que fez, inclusive, a situação de ser difícil diferenciar o índio do amazônida. A observação feita pela Funai de que "suposta invasão externa atingiria alvos estratégicos e não viria pela zona de fronteira", ignora que a guerra atual não se desenrola com desembarque de tropas extrangeiras armadas, mas com uma estratégia de invasão cultural, ocupação disfarçada dos meios de produção, das comunicações, do sistema financeiro, dos transportes e do domínio das atividades essenciais para a vida da população (energia, água). Num olhar, mesmo rápido, para a nossa realidade temos que constatar que estamos sob "declaração de guerra" e, no caso especial da Amazônia a tropa de choque invasora é composta por organizações não governamentais (ONG) e, lamentavelmente, como em toda guerra, há os traidores, aqueles que não respeitam nem se preocupam com a defesa da nossa soberania.

Rui Nogueira é médico, pesquisador e escritor
Este artigo está no "Tribuna da Imprensa" de hoje:

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