quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Geopolítica Internacional


A suposta "não violência" do Dalai Lama é desmentida pela CIA
Por Domenico Losurdo
[*]

A campanha anti-chinesa em curso nos nossos dias apresenta, e celebra, o Dalai Lama como um campeão da não-violência, verdadeiro herdeiro de Gandhi. Entretanto, a este respeito deve-se notar que o ocidente liberal durante longo tempo mostrou-se muito pouco simpático em relação a Gandhi. É com um soberano desprezo que Churchill fala deste "faquir sedicioso", deste "miserável pequeno velho, que é nosso inimigo desde sempre", deste "velho com os pés nus"
[1] , que pretende por a mão sobre "aquilo que nos pertence" e "quer expulsar a Inglaterra da Índia" [2] . A incontornável arrogância imperial carrega-se por vezes de tons racistas, como se vê em particular numa tomada de posição de 1931:
"Também é alarmante e nauseabundo ver Gandhi, um advogado subversivo do
Middle Temple , agora nesta atitude de faquir conforme um modelo bem conhecido no Oriente, subir, a grandes passos e meio nu, as escadarias do palácio do vice-rei para ir falar de igual para igual com o representante do rei-imperador quando ele ainda se dedica a organizar e conduzir uma campanha provocatória de desobediência civil" [3] .
Em todo caso, contra o movimento independentista, quer seja violento ou não violento, sabe-se recorrer a todos os meios, e em 1932 Churchill saúda o lançamento na Índia de medidas "mais drásticas do que todas aquelas que se haviam verificado necessárias desde a época do Motim de 1857"
[4] , ou seja, desde a revolta dos Sepoys e da sangrenta repressão que no seu tempo provocará a indignação de Marx. (...) Reclamando-se de Gandhi e do Dalai Lama, círculos que se dizem de esquerda e mesmo radicais — pense-se, no que se refere à Itália, ao "Partito radicale transnazionale", dirigido por Marco Pannella — não só estigmatizam como sanguinários os movimentos de libertação nacional (como por exemplo a resistência palestina), mas vão ainda mais longe: ignorantes das lições da não-violência e dominados por pulsões homicidas e totalitárias, os ditos "radicais", que se opõem a estes movimentos de libertação nacional, apoiam regularmente as guerras lançadas por Washington para a exportação da "democracia" e, com uma ênfase muito particular, as guerras desencadeadas por Israel contra seus vizinhos árabes: em primeríssimo lugar, contra o povo palestino. O apoio às guerras israelo-estado-unidenses está em contradição com o princípio da não-violência? Os "radicais" não têm nenhuma dificuldade em se referirem ao Gandhi que, durante a Primeira Guerra Mundial, apoiava o esforço de guerra do império britânico e fazia calar seus adversários acusando-os de serem covardes e mesmo "efeminados". Neste ponto, a "não-violência" transformou-se numa ideologia da guerra (por enquanto fria).

[*] Extraído de "La non-violenza. Dilemmi morali e promesse non mantenute", ensaio inédito em elaboração. Está em português (de Portugal) no site “Resistir”.

O original italiano encontra-se em
A versão em francês encontra-se em

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