sábado, 13 de dezembro de 2008

“Crise: Rumos e Verdades”

Cientista político critica manutenção de juros e afirma que Brasil está refém das transnacionais

A decisão do Banco Central do Brasil em manter as taxas de juros em 13,75% e a posição do governo federal em relação à crise financeira mundial foram duramente criticadas pelo cientista político César Benjamin, na última mesa rodada de debates do seminário “Crise: Rumos e Verdades”, na manhã de quinta-feira (11). “O Brasil ao longo desses 30 anos, foi se tornando cada vez mais uma sociedade de vontade fraca. Uma sociedade que busca pequenas soluções, que busca os atalhos, os caminhos de menor resistência e não consegue estabelecer um projeto de longo prazo nem construir, de forma coerente, uma forma de sustentação desse projeto”, criticou.“Todo o país pede a queda da taxa de juros. O presidente da República pede a queda da taxa de juros. O Banco Central se reúne e mantém a maior taxa de juros do mundo. Nós aceitamos ter um Estado, dentro do nosso Estado Nacional, que não responde ao Estado Nacional. É exatamente isso que ocorre hoje na relação do Estado Brasileiro com o Banco Central”, completou. Benjamin alertou que as medidas recentes do governo brasileiro fortalecem o poder autônomo do Banco Central e que tal postura pode conduzir o País ao pior dos cenários previstos. Ele considera que, a atual política cambial brasileira atende principalmente os interesses das empresas multinacionais aqui instaladas.

CAPITAL – O problema desta visão, de acordo com Benjamin, é que as filiais estrangeiras têm suas metas definidas em seus países de origem e tomarão decisões no sentido de protegê-los. Com isso, em período de crise mundial, aumentam as remessas das multinacionais, se intensificam as saídas de capitais e ocorre o que ele chama de “ataque às reservas de capitais”. Ele sugere o controle deste envio de dinheiro como o primeiro passo para controlar os efeitos da crise.“Nós precisamos, primeiro, controlar os fluxos de capital, de modo a recompor a soberania brasileira sobre o espaço econômico nacional. Feito isso, nós nos tornaremos capazes de baixar dramaticamente nossa taxa de juros. Ao realizar essa baixa, nós podemos nos libertar do superávit primário e criar uma folga fiscal. Ao criar essa folga fiscal, nós podemos financiar um grande programa de investimento em infra-estrutura econômica e social, e em projetos para o desenvolvimento brasileiro”, explica ele.Esta seria uma forma de reação ativa à crise internacional, de acordo com Benjamin. O problema, segundo ele, é que ela exige um nível de soberania, vontade política e de coerência na ação do Estado Nacional que o Brasil não tem.
REFÉM – “Hoje o Brasil perdeu imensos graus de liberdade de definição de suas políticas e é refém de movimentos de capitais especulativos, é refém de empresas multinacionais, perdeu a capacidade de definir os seus próprios objetivos. Só que, conquistar soberania tem custos e a questão é que a nossa sociedade e o nosso sistema político não têm mostrado que estão dispostos a assumi-los. Nós preferimos nos adaptar, preferimos os caminhos mais maneiros, preferimos pequenas soluções. Vamos aumentar um pouquinho o programa Bolsa Família, liberar o compulsório e ver como seremos levados ao longo dessa crise”, analisa. Benjamin fez um apelo para que o governo federal, a exemplo do que tem feito o governo do Paraná, atue no sentido de proteger o país contra a crise. “O que eu mais temo é que, por falta de coragem, de coerência, de patriotismo e de lealdade ao povo brasileiro, o nosso governo espere a crise se agravar a um ponto praticamente irreversível, para então se dar conta de que deveria ter agido. Eu acho que a função desse seminário é fazer uma grave advertência, não só ao governo, mas à Nação e ao sistema político brasileiro, que é melhor nos prepararmos agora, para evitar um cenário pior, do que ficarmos nos enganando e, mais adiante, termos que tomar medidas muito drásticas e ineficazes”, concluiu.

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