domingo, 14 de dezembro de 2008

Na Mira do Belmiro

Os bancos e a crise
Belmiro Vianez Filho (*)
belmirofilho@belmiros.com.br

«Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo Americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram.»

(Thomas Jefferson, 1802)

É extremamente significativo que a esfinge de Thomas Jéferson, o terceiro presidente dos Estados Unidos, seja apenas estampada nas notas de dois dólares e em moedas discretas de 20 centavos que circulam por aí. Sua relação com o sistema financeiro, pelo visto, não era das mais amistosas. Por isso é curioso espcular 0 que diria hoje, sobre os bancos, este iluminista, arqueólogo nas horas de folga e apreciador de um bom vinho quando constatasse as causas de mais uma crise que leva seu país à bancarrota e o planeta à recessão? E quais seriam suas impressões sobre o mega-faturamento dos bancos no Brasil a cada trimestre e ainda sobre a certeza de que este setor será o maior beneficiário da crise global em que o país já mergulhou? Enquanto o Brasil produtivo decreta férias coletivas em múltiplos setores nas vésperas da quadra natalina e se prepara para um crescimento próximo a zero em 2009, os bancos já posicionam as próprias taxas nas alturas. O cheque especial, por exemplo, alcança a abusiva tarifa de 10% ao mês como média de amostragem no setor. Uma festa imodesta e sem penetras. Só para a diretoria.
Participante direto das articulações que desaguaram na Revolução Francesa, Thomas Jéferson é autor da Declaração da Independência dos Estados Unidos e signatário de primeira hora da Declaração dos Direitos do Cidadão, consubstanciada como um dos principais resultados dos ideais franceses e universais de liberdade, igualdade e fraternidade. É com este currículo e autoridade cívica que há dois séculos este estadista avaliava o papel do sistema financeiro e alertava toda a sociedade para seus entraves nos desafios de desenvolvimento daquela que seria a maior potência econômica e militar do planeta. A reflexão sobre este alerta nos parece atualíssima e necessária ao país. E não há nela qualquer proposição de beligerância ou sugestão de revanchismo entre os atores sociais e econômicos que compõem a realidade nacional. Apenas um alerta!
É emblemática ainda a ausência de notícia da participação destacada e proativa dos banqueiros nas rodadas de negociação e entendimento que os diversos segmentos sociais estão fazendo com o poder público para identificar saídas conjuntas e equânimes de enfrentamento das previsões recessivas para o ano que vem. Esta semana a Central Única dos Trabalhadores sentou-se à mesa com o ministro da Fazenda para apresentar e debater suas propostas para gerenciar a crise com prioridade inteligente e essencial da defesa dos empregos e dos salários. E a tecla da Central repete a obviedade - que o olhar vesgo de alguns planejadores se furta a detectar - da distribuição de renda. E nesse contexto, salta novamente aos olhos a necessidade de um sistema tributário que tenha como um dos seus pilares a progressividade, protegendo a renda dos menos aquinhoados.
Vale, pois, a pena conhecer os detalhes da proposta da CUT e pressionar o governo para que retome a discussão desta temática delicada e dramática com a sociedade. E que no bojo das discussões para identificar novas saídas de distribuição de renda sejam analisadas as implicações na renda do trabalhador e dos micro e pequenos empresários dessa farra dos juros praticados pelo sistema financeiro. Se os juros no cheque especial alcançam a estratosférica taxa de 12,30 ao mês no Banco Safra, por exemplo, os juros dos empréstimos bancários são outra assombração capaz de inibir o mais perdulário dos consumidores. O Banco Real cobra 8,15% para empréstimos pessoais de 12 meses, contra 7.09% do Itaú e por aí vai... Como falar em Direitos do Cidadão e Declaração de Independência do país em tempo de crise com um barulho de apropriação da poupança popular tão exacerbado como este?

Zoom-zoom

Lei dos muambeiros - Escandalosa, impatriótica e demagógica a proposta aprovada no Senado que concede isenção para os sacoleiros que compram muamba no Paraguai e revendem em todo o país sem qualquer compromisso fiscal ou legal com a indústria legalmente estabelecida. Uma atitude que a bancada do Amazonas deveria enfrentar com veemência e inteligência.

Pirataria e sobressalto - além de proteger o produto pirata, portanto reforçar o crime organizado, a irresponsabilidade de nossos senadores implode as indústrias instaladas em Manaus, que geram emprego e receita fiscal, especialmente para os cofres federais. E que passam por momentos de sobressalto.

Educação e Orçamento - Os vereadores que se atribuem o estigma de defensores da redução das verbas municipais destinadas para educação em 2009 já avançaram passos largos na conquista da inglória e constrangedora meta que lhes impuseram e que, estranhamente, nenhum deles conseguiu justificar.

(*) Belmiro é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.

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