quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Destaques da "Carta Capital" da Semana

EXCESSO DOLOSO
Antonio Luiz M. C. Costa

De vitória em vitória, Israel perderá a guerra – é a sensação que deixa a ofensiva em Gaza. Seu Exército poucas vezes enfrentou um inimigo em princípio tão antipático ao Ocidente, uma agressiva facção fundamentalista islâmica que controla um território minúsculo e miserável. Países que tradicionalmente tiveram boas relações com Tel-Aviv condenaram suas ações com ênfase incomum e muitos jornais e revistas tradicionalmente simpáticos ao sionismo deram mais espaço a outras opiniões e a fotos trágicas ou heróicas do sofrimento palestino. Os tradicionais soldados israelenses em poses altivas, vistos nos primeiros dias, caíram fora da pauta. Com a proibição por Israel da entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza, a mídia e a opinião pública foram alimentadas por imagens e relatos dramáticos fornecidos por jornalistas árabes e correspondentes palestinos, que puderam ilustrar seu ponto de vista com pouca concorrência. A frase “reação desproporcional” nunca foi tão empregada e com tanta propriedade. No mínimo, há excesso doloso na legítima defesa, crime punível
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História ao gosto do freguês

Apoiar incondicionalmente as ações israelenses nunca pareceu tão tolo. No caso do jornalista português João Pereira Coutinho, em sua coluna na Folha de S.Paulo de 6 de janeiro, chegou-se aos mais profundos abismos da estupidez. Propôs um exercício de história alternativa, no qual o Brasil foi atacado em 1967 por três potências latino-americanas (sic), uma delas o Uruguai (!), que acaba ocupado. Em 2005, o Brasil se retira do Uruguai, como “primeiro passo para a existência de dois Estados soberanos, o Brasil e o Uruguai” (sic), mas o Rio Grande do Sul é bombardeado por terroristas uruguaios, apoiados por uma Argentina “liderada por um genocida que deseja ter capacidade nuclear para riscar o Brasil do mapa”. O Brasil então invade o Uruguai “para terminar, de uma vez por todas, com a agressão de que é vítima”. Difícil imaginar recurso mais patético do que tentar mobilizar o chauvinismo dos brasileiros convidando-os a se imaginarem ameaçados pelo Uruguai e pela Argentina – mesmo que, além disso, essa ficção não falsificasse radicalmente a história e o contexto do conflito. Experimentemos tornar a analogia um pouco mais completa e assumir o ponto de vista do outro lado, por mais que isso possa soar politicamente incorreto. Suponhamos que na Segunda Guerra Mundial não houvesse ocorrido o Holocausto, mas acabasse em completa destruição, desindustrialização e desmembramento completo da Alemanha (como chegou a propor o chamado plano Morgenthau, em 1944) e que sua consequência fosse o êxodo de milhões de alemães da Europa, impelidos pela destruição de sua indústria a se estabelecerem em outras partes do mundo.

O Brasil, no qual já havia uma importante colônia alemã e que acontecia ter sido ocupado pelos britânicos em uma guerra anterior, é seu destino preferencial. As nações ocidentais penitenciam-se da culpa pelo sofrimento dos refugiados alemães inocentes aprovando um plano para dividir o país entre nativos e imigrantes. Desafiados pelos nativos, em 1948 os imigrantes alemães e os descendentes de alemães que já viviam no Brasil se apoderam de três quartos do País e o transformam em um Estado de Teutônia, ao qual germano-descendentes de todo o mundo são convidados a imigrar, criar “um posto avançado da civilização” e “fazer florescer o sertão”. Uma minoria de brasileiros permanece em Teutônia como cidadãos de segunda classe. A grande maioria é obrigada a implorar asilo na Argentina, Bolívia, Paraguai e Venezuela, ou se aglomerar em campos de refugiados no Rio de Janeiro e Nordeste, que se unem a outras nações latino-americanas. Estas, em 1967, desafiam a Teutônia e são derrotadas, o que resulta na ocupação total do que restava do território brasileiro. A Teutônia continua a receber imigrantes e incentiva seu estabelecimento nos territórios recém-ocupados, distribuindo essas terras aos recém-chegados. Mas alguns brasileiros reagem à ocupação formando organizações de resistência que cometem atentados contra o governo e civis teutônicos. Algumas dessas organizações exigem a expulsão dos invasores e a restituição total do antigo território do Brasil, outras, conformam-se em aceitar um Estado brasileiro dentro dos limites de 1967 – Estado do Rio e Nordeste. Os teutônicos não dão mostras de levar a sério essa possibilidade, apesar das pressões internacionais, até que o custo excessivo do conflito e da ocupação leva seu governo a decidir se retirar do Rio de Janeiro, imensa favela de 30 milhões de refugiados, e de municípios áridos, esparsos e superpovoados do interior do Nordeste, cercados de muralhas, postos de vigilância e prósperas fazendas teutônicas. Apesar da resistência militante de alguns milhares de teutônicos que haviam recebido terras perto de Nova Friburgo, a retirada é efetivada e a administração desses guetos entregue a uma “autoridade brasileira” gerenciada por um partido corrupto e ineficaz, que continua a reivindicar inutilmente a independência dentro dos limites de 1967. Sua sede é um bolsão isolado em torno de Juazeiro do Norte, cercado de tropas teutônicas. Algum tempo depois, a maioria dos refugiados elege para a autoridade uma facção radical da resistência, como a única capaz de impor alguma ordem e trazer alguma esperança e dignidade, principalmente no inferno no qual se transformou o antigo Estado do Rio. Seus territórios são impedidos de receber recursos e se comunicar com o mundo exterior, seu governo é sistematicamente sabotado e depois dissolvido pelo presidente títere, cuja guarda reprime violentamente a facção radical nos guetos nordestinos.
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A grande família naufraga

O Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo decidiu, na quarta-feira 7, demitir os ocupantes de cargos comissionados que haviam sido indicados pelos desembargadores suspeitos de participação em um esquema de venda de decisões judiciais. A Polícia Federal prendeu em dezembro, na chamada Operação Naufrágio, três desembargadores – entre eles o presidente do Tribunal, Frederico Guilherme Pimentel –, um juiz, dois advogados e uma servidora do órgão investigados no caso.
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Resta o investimento
Delfim Netto
É mais do que justificável a apreensão com a qual o Brasil assiste à chegada de uma crise gerada no mundo desenvolvido e que ameaça interromper o ciclo de crescimento apenas iniciado. Esta não é uma recessão como as anteriores, produzidas deliberadamente pela própria política monetária para corrigir o excesso da expansão da demanda. Ela é a colheita dos equívocos da política monetária laxista dos bancos centrais (liquidez abundante e taxa de juro real muito baixa) e da política fiscal (excesso de estímulo à atividade imobiliária para financiar residências a quem não podia pagar), com as quais se empurrou com a barriga a recessão de 2001.
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Da cratera ao tribunal

“De certa forma, estou feliz porque parece que não vai acabar em pizza”, acredita a taxista Rosa Maria Pescuma. Ela morava em um dos 94 imóveis interditados após um desmoronamento nas obras da futura estação Pinheiros do Metrô paulistano. Em 12 de janeiro de 2007, uma cratera se abriu na rua e fez sete vítimas, soterradas, além de desalojar 212 moradores do entorno, que passaram meses em hotéis. Alguns ainda vivem transtornos.
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