quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Posse de Obama emociona brasileirinhos desavisados



Os “brasileiros”, como “bons patriotas” (sem direito de voto) da colônia, choraram de emoção com a posse de Obama, ontem. Via-se otimismo nos olhinhos emocionados de todos. Muita esperança. Afinal, é o chefe da nação assumindo o poder mundial num momento de crise. Mas, sem querer ser chato e já sendo, insisto em estragar a festa. Confiram parte de um artigo que escrevi no ano passado sobre o assunto:

Não é muito inteligente se afirmar que a ascendência africana de Obama, necessariamente, o fará se preocupar mais com os países pobres do mundo. E é duplamente pouco inteligente pensar que um membro do Partido Democrata na presidência da maior potência bélica do mundo, necessariamente, seja bom para a paz mundial. Obama não é uma bela flor isolada que nasceu no estrume da sociedade racista ianque. Ele é o próprio estrume, faz parte do sistema, se embrenhou em suas entranhas, estudou, cresceu e se destacou nele. Sabe de seus limites e, por ser homem preparado, se desenvolveu alimentado justamente pela fertilidade criadora da sujeira da excludente, belicista e racista sociedade norte-americana. Assim como Lula, teve - e tem - que fazer concessões. Mesmo que, por hipótese, na intimidade não concorde com o que predomina ali, sabe que terá que demonstrar ser mais conservador que muitos “falcões”, senão, dança. Neste sentido é um verdadeiro Michel Jackson da política. Se não se mutilou para ficar com a pele branca e o nariz afilado, com certeza “embranqueceu” sua visão de mundo e seus métodos. E sabe que terá que provar isso. Mas não será difícil, pois é do Partido Democrata, que sempre teve presidentes belicosos, como Truman, Kennedy, Johnson, Carter e Clinton. Partido que sempre deu de dez a zero no Republicano quando o assunto é a intervenção em assuntos de outros países, sendo unha e carne com o que o presidente republicano, Dwight D. Eisenhower, chamava criticamente de “complexo industrial-militar”.

A História

Senão, vejamos: no século XX, os democratas presidiram cinco dos seis maiores gastos orçamentários com armamentos. Foram duas grandes guerras mundiais (na Segunda lançaram a Bomba Atômica), a Guerra da Coréia, a Guerra do Vietnã e a recente destruição de um país soberano: a Iugoslávia. A exceção ficou por conta apenas dos gastos da Guerra Fria durante o governo do republicano Ronald Reagan, na década de 80. Mas Reagan gastou mais com armas de dissuasão contra a URSS - como o milionário projeto “Guerra nas Estrelas”-, não com guerras efetivas. Estas existiram, mas foram infinitamente menos dispendiosas do que as guerras dos democratas. Afinal, a invasão de países “gigantes’, como Granada e Panamá, não são assim muito caras, não é mesmo? Mas, o sucessor dele, o democrata Bill Clinton, logo retomaria a linha belicista e imperialista dos democratas. Foi o responsável pela destruição da Iugoslávia, utilizando-se de bombardeio sistemático de civis com armas radioativas sem o aval da ONU. Bombardeou, também com armamento radioativo, populações civis na Somália, na parte turca do Curdistão, assim como no Iraque e no Afeganistão, muito antes do “11 de Setembro”. Depois da destruição da “Torres Gêmeas”, já no governo Bush Jr., tanto no Congresso quanto no Senado, republicanos e democratas vêm votando recursos orçamentários suficientes para a ocupação do Afeganistão. Embora a maioria do Partido Democrata no Congresso tenha votado contra a guerra no Iraque (81 a favor e 126 contra), nada foi feito para impedir a aprovação dos sucessivos orçamentos de guerra. Por outro lado, somente um único senador democrata não votou a favor do texto original do Ato Patriótico, a lei de exceção de George W. Bush. A maioria dos senadores democratas também votou por sua renovação em 2006.

O perigo

Ao contrário do que o otimismo sugere, portanto, Obama pode ser um perigo para a humanidade muito maior que Bush (até porque é mais inteligente que este. Pode causar mais estrago), não por decisão própria, mas pelo Sistema ao qual pertence. Perigo agravado pelo fato de ter origem africana, pois poderá querer provar que tem capacidade, como qualquer falcão branco, não só de manter a tradição belicista democrata, mas de ampliá-la, mostrando-se durão no jogo imperialista da grande potência. É como aquela história da feminista que, lutando para combater o machismo, ao invés de melhorar o mundo com a sensibilidade e a sapiência femininas, acaba masculinizando-se, copiando o que há de pior nos homens. Obama tem um exemplo histórico entre os presidentes democratas. Harry Truman teve o peso de suceder o gigante Roosevelt, herói da Segunda Guerra. Enfrentou grande desconfiança. Era visto como um liberal sincero, um homem bom, humilde e simplório do povo, quase um pacifista. Para provar ao Sistema que era durão, que estava à altura do antecessor, acabou arruinando duas cidades japonesas com a bomba atômica e dando início ao endurecimento da Guerra Fria com a “Doutrina Truman”. Foi também dele a decisão de criar as bases do que viria a ser a caça às bruxas conhecida como “macartismo”. Truman tinha lançado um “Programa de Lealdade”, visando afastar americanos “esquerdistas” das posições influentes. Era o início, nos EUA, de um tipo de expurgo ideológico que até então fora monopólio dos soviéticos. Foi este programa do democrata que permitiu que o senador republicano, Joseph McCarthy, através do “Subcomitê Permanente de Investigações”, fizesse o que fez como verdadeiro inquisidor. É isto que a História nos diz. Agora, é esperar para ver o que acontece. Que eu esteja errado e que o mundo realmente sorria com Obama. É o desejo de todos...

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