domingo, 15 de fevereiro de 2009

Na Mira do Belmiro...

A luz, o túnel e a cumplicidade

Na lógica do capitalismo é assim. Quem se antecipa aos fatos e olha os acontecimentos como mercadoria e oportunidade de negócios acaba achando saídas. E de quebra, começa a descobrir que o alarmismo - como estratégia de negócios - está a serviço de forças e interesses que nada têm a ver a gravidade e percalços da situação momentânea deste ou daquele setor. A crise, alardeada e decantada em versos e prosas tenebrosas, não impediu que o modelo Zona Franca batesse mais um recorde histórico faturamento de US$ 30,128 bilhões. A marca, publicada nesta semana oficialmente pela Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA, é 17,25% maior que o contabilizado em 2007, US$ 25,695 bilhões, e leva em conta apenas as informações fornecidas por 388 das aproximadas 550 fábricas do PIM. É bem verdade que a média mensal de US$ 2,647 bilhões mensais levou em conta a queda mais expressiva do indicador verificada em novembro e dezembro -US$ 2,108 bilhões e US$ 1,541 bilhão, respectivamente - que em parte se deve ao menor volume demandado pelo comércio no fim de ano, onde as encomendas são feitas até outubro pelo varejo. Há, pois, gás e energia pra queimar e luz no fim do túnel para ver que o caminho é continuar a crescer.

O IBGE divulgou na semana passada que o Amazonas figura entre os Estados que começam a apontar indicadores positivos, embora discretos, na produção industrial. E o desempenho da indústria paulista começa a revelar uma recuperação animadora. De acordo com o Sinalizador da Produção Industrial (SPI), a produção física da indústria de São Paulo cresceu 5,7% em janeiro em relação a dezembro de 2008, considerando os dados com ajuste sazonal. Não há dados precisos mas as estatísticas estaduais apontam que a arrecadação do Amazonas apresentou crescimento objetivo comparando Janeiro de 2009 com o mesmo mês de 2008. Um índice que deverá ser discreto mas, na atual conjuntura, extremamente animador. Isso indica que a poronga está acesa e teimosa pra alumiar a trilha, e que políticas adequadas implementadas com seriedade e cumplicidade cívica estão desmistificando as profecias sinistras do apocalipse econômico.


Chamou-me a atenção a medida do governo chinês de pagar parte dos salários dos servidores públicos com vale-compras para estimular o consumo. Uma iniciativa questionável na ótica do liberalismo ocidental mas que transpira uma recomendação de co-responsabilidade entre os atores do drama comum da vida social. A pressuposição de que estimular o consumo assegura a sobrevivência do setor produtivo, viabiliza o comércio e faz girar a economia tem por base a própria garantia de emprego e sobrevivência do servidor, cujo patrão é o Estado que é remunerado pela roda da atividade econômica. É a lógica imbatível da cumplicidade onde o dever de casa em cada setor assegura a dinâmica e evolução do conjunto social. Não há mágica nem outra opção.

Por isso, nesta semana o governo, através do BNDES, tratou de injetar mais nutrientes nas veias das micro e pequenas empresas, amenizar juros, cortar taxas no cheque especial e outras medidas, como flexibilizar contratos de trabalho, liberar a utilização racional do FGTS, a redução da cangalha fiscal e tudo o mais que a imaginação criativa conseguiu propor para aliviar tensões e reduzir encargos e entraves. É essencial que o setor privado tenha indicadores realistas e propostas objetivas para por à mesa da negociação e reivindicar compensações factíveis para a manutenção do emprego e da garantia funcional dos respectivos empreendimentos. Assim procedendo, vamos gerenciar - solidários - os efeitos do alarme e desmontar o alarmismo, fazendo alumiar com a luz do túnel o caminho promissor da cumplicidade geral.

Zoom-zoom

Retroagir e avançar - Louvável e inteligente a posição da Prefeitura em reverter medidas tomadas com a melhor das intenções para aliviar o caos do trânsito, e que não se revelaram eficazes. Esta capacidade de fazer e desfazer quando não funciona é extremamente positiva e denota atenção para os problemas urbanos e vontade política de resolvê-los.

Demandas e sugestões - As associações organizadas do varejo estão mobilizadas pra apresentar à Prefeitura uma proposta de estruturação e funcionamento da região central de Manaus. Seria oportuno que também os ambulantes tivessem a sua e que a Prefeitura assumisse o desafio de consultar os usuários dos serviços que o Centro oferece. Com essas demandas, sugestões e expectativas, com absoluta certeza, as intervenções do poder público seriam plenamente ajustadas e certeiras.

O vôo da morte - Mais uma vez Manacapuru foi palco de tragédia provocada por descaso da fiscalização. No ano passado, uma embarcação naufragou e matou 48 passageiros. No sábado, um avião tombou, provavelmente por excesso de peso, com a perda de 24 vidas, entre elas a de muitas crianças. Barco e avião foram vítimas da omissão das autoridades em cima da ganância e da irresponsabilidade de alguns aventureiros.

Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

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