quinta-feira, 23 de abril de 2009

Na Mira do Belmiro

Varejo: saídas, avanços e omissões

A saída é achar entradas e bandeiras de enfrentamento da crise. Não é jogo de palavras nem há outro caminho para transpor os desafios vitais de equação da adversidade presente. Provavelmente esta é a razão estratégica do governo em determinar que os dois principais bancos federais, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, abrissem novas linhas de crédito para as financeiras de grandes lojas de varejo. Um bom começo. Está em jogo o projeto político que a crise pôs à prova, brecando alguns avanços substantivos de crescimento e ameaçando por abaixo a consolidação de um novo patamar de governabilidade e - para usar uma palavrinha da hora - sustentabilidade do governo Lula.
Pela primeira vez nas últimas décadas, a política econômica federal olha com seriedade e objetividade para o varejo, reconhecendo seu papel decisivo na corrente de sustentação e equilíbrio das relações econômicas e sociais. Parece até irônico constatar, mas na atual conjuntura a venda de fogão, cama e geladeira está relacionada com um resultado positivo do PIB. Os analistas ainda não entraram num acordo sobre como se comportará este indicador em 2009. Seja lá como for, porém, para esses itens essenciais ao cotidiano não se justificam as dificuldade de crédito e respectivas e abusivas taxas de juros ora praticadas.
E os demais setores do varejo que completam e fortalecem essa corrente de sustentação? A redução do IPI para a linha branca, seguiu-se à ajuda substantiva à construção civil, o segmento que mais emprega no setor de serviços. É hora, pois, de rever o conjunto das relações formais, burocráticas e tributárias do poder público com os responsáveis preferenciais pela geração de riqueza, emprego e renda: o varejo. A desoneração em todos os níveis é sinônimo de fôlego para evitar a falência de micro e pequenos empreendedores. Não há forma mais eficaz de superação.
Cabe ainda indagar sobre o papel de agentes regionais como o BASA, excluído desta nova orientação de crédito e apoio num momento crucial de sobrevivência/insolvência dos negócios na região. As promessas de ampliação de créditos e serviços dessa instituição no Estado, delegação de autonomia e outras conversas antigas seguem em passo de quelônios, sob a alegações esdrúxulas que incluem a restrição tecnológica e dificuldades logísticas impostas pelas limitações geográficas desta unidade da federação. Desculpas marotas pra justificar a ausência inaceitável do Banco da Amazônia na linha de frente deste cenário de aflição, temor e segurança. Por quê e até quando?

Zoom-zoom

Farra no Congresso - É saudável e inadiável o esclarecimento das denúncias de uso abusivo e lesivo ao erário na compra e uso das passagens aéreas no Congresso Nacional. Parentes e amigos não podem usufruir em caráter privado deste ou de qualquer outro privilégio pago pelo contribuinte para cumprimento de uma função pública.

Folga abusiva - Enquanto milhares de trabalhadores vagueiam pelas ruas sombrias do desemprego, na Câmara Municipal de Manaus os vereadores resolveram esticar o feriadão de Tiradentes enforcando toda a semana e o decoro que a ação representa. Uma truculência moral e uma atitude deplorável diante de uma conjuntura adversa da sociedade que corre atrás de saídas para a sobrevivência geral.

Enchente e solidariedade - No recente episódio da tragédia das águas em Santa Catarina, o país inteiro se mobilizou para amenizar as dores e os danos da tragédia com aqueles irmãos do Sul. O drama dos ribeirinhos amazônicos não é menor nem menos dramático mas com certeza não receberá da mídia e, por conseqüência, da opinião nacional o mesmo trato.

Desabafo - Num depoimento dramático e contundente, Dr. Altamir, médico e amigo, traduz esta discriminação nacional: " A mídia nacional ignora a tragédia amazônica. Para eles nós não existimos - a não ser como invasores, intrusos mal intencionados. Estamos aqui para exterminar os indígenas, pilhar suas riquezas, transformar a floresta em deserto. E, de quebra, somos um povo de caráter fraco, que exploramos nossos filhos e os vendemos para a exploração infanto-juvenil. Isto,sim, e com os exageros de sempre, é para eles matéria de interesse permanente".

Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

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