segunda-feira, 20 de julho de 2009

Eleições 2010: campanha serrista contra aliança Lula/Sarney

Contradições da grande imprensa amestrada na cobertura do Senado

Campanha golpista: O jornal O Estado de São Paulo procura desesperadamente desqualificar o apoio de Lula a Sarney. Lembra que o presidente tem apoiado, “de forma contraditória com o passado”, políticos antes “arquiinimigos” como Sarney, Collor e Paulo Maluf. Sugere em matéria que o seu leitor vá ao YouTube verificar vídeo em que Lula falava mal de Roseana Sarney durante a campanha de 2004 e faz outra matéria citando várias “contradições” no seu discurso do passado e de hoje.

Verdades políticas: É claro que a imprensa não tem o dever de explicar que um mandato político não pertence ao eleito, mas às forças sócio-políticas que lhe delegaram poder. Quer dizer, em política não há nem deve haver preferências subjetivas, amizades ou antipatias entre os eleitos, mas interesses de classes, grupos e facções. Por isso, o estadista é aquele que coloca os interesses de seus eleitores acima de suas preferências pessoais. Do contrário, seria o autoritarismo e a tirania. Mudadas as condições reais do equilíbrio de forças (e a sociedade é u organismo em constante transformação), mudam-se as alianças, a despeito da vontade do líder. É este o jogo democrático em qualquer país civilizado do mundo.

Eleições 2010: a guerra já começou...

Por outro lado, as eleições de 2010 já começaram. O PMDB é o maior e mais organizado partido brasileiro, com sedes espalhadas em todas as capitais e na maioria dos mais de 5 mil municípios brasileiros. Nas últimas eleições municipais foi o grande vitorioso. Sem ele fica muito difícil um candidato se eleger presidente. E mais difícil ainda conseguir governar depois. A preocupação excessiva dos grandes meios de comunicação, procurando atrelar discursos antigos de Lula a sua atual aliança com Sarney – e daí desqualificando e/ou sugerindo interesses mesquinhos – reflete a necessidade de dividir e enfraquecer esta verdadeira máquina eleitoral que é o PMDB. Lula está blindado. Tem o apoio do povão (84% de aprovação popular) e, ao mesmo tempo, dos setores da elite que se beneficiam com a manutenção da essência da política econômica monetarista herdada de FHC. Quer dizer, Lula soube construir uma base social entre os dois pólos da pirâmide social: o poder econômico internacionalizado, por um lado, e as massas empobrecidas, por outro. De um lado manteve o famigerado “superávit primário” para pagar juros aos banqueiros, por outro lado, se preocupou em ampliar salvaguardas contra a pobreza, com coisas como o “bolsa-escola”. Como não há como atacá-lo nestas questões e como a atual oposição parlamentar é quase inexistente, resta aos partidários de José Serra a única opção de tentar desagregar a aliança no Congresso entre Lula e o PMDB. Mas não o PMDB pouco confiável de Temer, que já teve uma história de apoio ao Serra, mas o PMDB de Sarney, que já mostrou ao presidente Lula que é confiável e que teve um passado vinculado às questões sociais. Ou seja, a mídia subsidiada pelo governador de SP precisa quebrar este elo, ou na pior das hipóteses promover uma campanha implacável – como vem acontecendo – contra Sarney para desqualificá-lo de tal forma que sua aliança possa não ser interessante a Lula. Mesmo que Sarney continue promovendo todas as transformações que vem fazendo no Senado, mesmo que transforme efetivamente a Casa num santuário de anjinhos, não o deixarão em paz.

Classe média e discurso anti-corrupção: base de todos os totalitarismos

Como pano de fundo desta questão puramente partidária e eleitoral, há ainda o agravante da base social. Serra e seu exército midiático – muito bem pago pelos contribuintes de São Paulo - sabem que a classe média, que paga mais impostos e sempre foi muito sensível ao discurso anti-corrupção, se sente prejudicada nesta história toda. Por isso, batem num discurso golpista irresponsável, tipicamente lacerdista, para tentar comover os setores médios urbanos contra a aliança Lula/Sarney e contra as próprias instituições democráticas. Lula sabe que deve ainda muito à classe média que, nesta história toda, realmente vem pagando a conta. Dilma Rousseff, que se dá muito bem com Sarney, é a figura no governo que mais vem pressionando Lula para resolver também os problemas da classe média. Será, inclusive, este o principal tema de sua campanha.

Lula e Quércia: dois pesos e duas medidas...

Mas mesmo o discurso anti-corrupção lacerdista da grande mídia pró-Serra não se sustenta nos fatos: que parte do PMDB está apoiando Serra hoje? Não falam nada. Mas trata-se do setor do PMDB liderando por aquele que foi o principal causador da criação do PSDB, o sr. Orestes Quércia, É ele a base de apoio do PSDB dentro do PMDB de hoje. Sem contar o senador Jarbas Vasconcelos, amigo de longa data de Serra, que diz que o PMDB é cheio de corruptos, mas continua lá desde que existe PMDB. Por que não saiu do partido? Por que não fez as denúncias – por sinal todas vazias, sem indicação de um único nome de corrupto – nas décadas em que está filiado ao partido? Por que só agora? Mas voltando ao Orestes Quércia. Em meados da década de 80 ele dominava com mão-de-ferro o PMDB. A turma de descontentes com esta liderança resolveu fundar o PSDB. Pois bem: hoje, este mesmo senhor é o principal aliado de Serra dentro do PMDB. Por diversas vezes já se pronunciou apoiador imediato da campanha de Serra a presidência. E Quércia, e a imprensa sabe, não é nem de longe um baluarte da moralidade. Por que, assim como a imprensa trabalha as “contradições” entre passado e presente do relacionamento entre Lula e Sarney, não desenvolve o mesmo raciocínio entre Serra e Quércia? É só consultar o Google para achar no passado palavras dirigidas por expoentes do PSDB nada abonadoras para com o sr. Quércia. O chavão “ladrão” é encontrado às dezenas de declarações destes dirigentes peessedebistas para se dirigir a Quércia. A nossa gloriosa imprensa “esqueceu” deste passado? Coisas para se pensar...

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