quinta-feira, 23 de julho de 2009

Eleições 2010: o papel da grande mídia em questão

A culpa é do governo
Por Eduardo Guimarães, Blog Cidadania

Nem bem cheguei ao Brasil – passei onze dias na África – e, antes de poder sequer sonhar em descansar, já encontro uma nova situação que me afasta da família, do descanso e da serenidade.Vamos, então, ao trabalho. Afinal, o cidadão que tem um pingo de consciência não consegue se abster de fazer sua parte quando vê seu país, a ordem pública e a paz social ameaçados por bandidos ligados a escroques do porte de um Daniel Dantas como são os jagunços midiáticos.
Só que, desta vez, vejo-me obrigado a abordar o assunto por outro ângulo.
Nos três anos e tanto que tem este blog, leitores entusiastas de partidos e de políticos de direita me pedem que critique o governo Lula. Finalmente chegou a vez deles. Vou criticar, e é agora.
Vocês acham que a mídia extrapola, que pratica moralismo seletivo, que promove alarmismo? Bem, tenho elementos mais do que suficientes para concluir que o maior culpado disso tudo é o governo que tem sido vitimado (junto com a sociedade) pela irresponsabilidade, pela corrupção e pela manipulação midiáticas.
Senão, vejamos:
1 – A mídia acusa Sarney e outros parlamentares, todos da base do governo Lula no Congresso, por corrupção, por nepotismo e por “atos secretos”. Agora, meios de comunicação divulgam ilegalmente – e seletivamente – gravações da Polícia Federal de conversas da família Sarney de um teor que mostra apenas um mal (nepotismo) que envolve praticamente todos os políticos de casas legislativas do país.
2 – Todos os dias, a mídia critica e acusa só o governo Lula e governos e parlamentares de partidos da base de apoio do governo no Congresso. Essa é a condição para criticar e denunciar políticos: serem do governo Lula ou ser o próprio Lula.
3 – Temos uma epidemia mundial de gripe (a dita “gripe suína”) de letalidade igual ou menor do que a da gripe comum, no Brasil o problema é infinitamente menos grave do que na maioria dos outros países e a mídia alarma a população, fazendo congestionar o sistema público e privado de saúde sem a menor razão.
E o que fazem o presidente e seu governo, bem como seus aliados, sobre a seletividade nas denúncias midiáticas? Quando estes ousam fazer alguma crítica tímida à mídia, apesar de terem todo espaço do mundo para ressaltarem que essas denúncias e críticas são seletivas e poupam os partidos e governantes da oposição de direita, não dizem o que deveriam dizer, ou seja, que são denúncias seletivas.
Por que, diabos, Lula ou outras autoridades do governo não denunciam ao país que a mídia poupa o PSDB, o PFL, José Serra e companhia?
Por que não perguntam, publicamente, por que a mídia de São Paulo não pressiona o governo de São Paulo (Serra) a não bloquear os oitenta pedidos de CPI parados na Assembléia Legislativa paulista?
Por que não exigem que a mídia não critique e denuncie apenas Sarney e outros da base do governo, mas os políticos de todos os partidos contra os quais pesam denúncias tão ou mais graves?
Pior ainda – e por isso deixei por último – é essa volta do alarmismo midiático quanto a um surto de doença, como no caso vigente da gripe H1N1.
Em março do ano passado, a ONG que fundei em 2007 – e que presido até o momento –, o Movimento dos Sem Mídia, protocolou uma representação no Ministério Público Federal contra vários jornais, revistas e tevês por crime de alarma social no âmbito de outra campanha alarmista promovida por esses veículos em janeiro de 2008, relativa a um surto sazonal de febre amarela.
E só para ilustrar a questão, informo, abaixo, os veículos representados:

Grupo Folha
Grupo Estado
Organizações Globo
Editora Abril
Revista IstoÉ
Jornal Correio Brasiliense
Jornal do Brasil

O surto de febre amarela de 2008 foi muito menor do que o de 2000, quando o ministro da Saúde era José Serra. Contudo, ano passado o alarmismo da mídia fez o Brasil quadruplicar o número de aplicações de doses de vacina em relação a 2000 e fez com que, ao fim de janeiro, houvesse mais pessoas doentes por conta da vacina contra febre amarela do que pela doença propriamente dita. E ainda fez pessoas morrerem por conta do medicamento, que tomaram sem necessidade movidas apenas pelo noticiário.
Em novembro do ano passado, o Movimento dos Sem Mídia, por meu intermédio, promoveu uma segunda juntada de documentos à denúncia que fez ao MPF. Tratou-se de um estudo conseguido pela jornalista especializada em Saúde Conceição Lemes no Ministério da Saúde.
O estudo, intitulado Auditoria de Imagem, é feito pelo MS periodicamente e versa sobre o comportamento da mídia quanto aquele ministério. E o estudo conseguido por Lemes mostrou comportamento atípico da mídia em 2000 – quando o ministro da pasta era Serra – em relação ao comportamento dela no ano passado. Em 2000, a mídia fez uma cobertura sóbria, e no ano passado, alarmista.
O MPF, ao receber o estudo em tela, pediu ao MS que confirmasse a veracidade daquele estudo, do que se depreende que, se fosse confirmado, haveria elementos suficientes para processar criminalmente os veículos de comunicação representados pelo Movimento dos Sem Mídia.
Bem, o resumo da ópera é que estamos chegando a agosto e, até agora, o Ministério da Saúde não respondeu ao MPF, apesar de este já ter reiterado três vezes o pedido de informações àquele ministério. Ou seja: o MS sentou em cima do processo. Recusa-se a colaborar com o combate ao mesmo alarmismo que está de volta, incentivando que a mídia volte à prática que chegou a matar algumas poucas pessoas e fazer dezenas de outras irem parar no hospital no ano passado.
Ora, se o próprio governo Lula, por omissão, ajuda a mídia a ser seletiva em suas denúncias e incentiva que promova alarmismo quanto a surtos de doenças que acabam gerando traumas enormes para o sistema público de Saúde do país, a conclusão a que posso chegar é inevitável: a culpa pelo moralismo, pelas denúncias seletivas e pelo alarmismo da mídia é de ninguém mais, ninguém menos do que do próprio governo Lula.

Nenhum comentário:

Postar um comentário