sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O único pecado de Paulo Octávio foi ter se acovardado em momento decisivo



Por Said Barbosa Dib*

Lula pede ao governador em exercício, Paulo Octávio, que se sacrifique para se evitar intervenção federal...

A grande imprensa, nos últimos dias, tentou construir a idéia de que Lula não receberia Paulo Octávio. Errou feio. E isto é sintomático. Sempre que vão por um rumo especulativo, com certeza a verdade escapole por outro. Lula não só recebeu o representante de Brasília, mas fez isso acompanhado de seu staff mais importante. O PFL, ou DEMO, ao invés de defender o seu correligionário, procurou apenas desmoraliza-lo, como se Paulo Octávio fosse um Arruda da vida e talvez, sempre com os rabos presos, temerosos de que as atenções se voltassem contra eles pelo país afora. Aliás, nada melhor para PO do que ser expulso do PFL. Isto só lhe dá maior credibilidade. Mas o governador em exercício de Brasília acabou sendo recebido por Lula. Diante do óbvio incômodo de uma intervenção da União no DF, em pleno ano eleitoral e com a possibilidade de temas que exigirão reformas constitucionais, tudo indica que Lula – apesar de ter que negar oficialmente – pediu, sim, o sacrifício de PO para que se mantenha no governo do DF neste momento de crise. A idéia é de que, se tiver que haver intervenção, que seja decorrente da decisão do STF, que se espera para a próxima semana, não de uma decisão unilateral do presidente. Uma avaliação óbvia. Por outro lado, todos sabem que Paulo Octávio há muito tem ótima relação pessoal com Lula e que não tem exatamente o perfil de corruptos como Arruda e Cia. Lula sabe que PO não pertence àquela gang. Tem, obviamente, acesso às informações da PF e da ABIN. Sabe do que acontece. Se houvesse qualquer coisa contra PO, não o teria nem recebido.
O presidente sabe, ainda, que o ex-deputado e ex-senador é um homem rico, um empresário de sucesso, um empreendedor que gera empregos, com patrimônio material e espiritual suficiente para não se corromper por dinheiro sujo em cuecas. Tem o que perder. Seu único pecado foi ter se acovardado diante das pesquisas manipuladas e ter aceitado ser o vice do então “companheiro” de partido, o eterno chorão hipócrita Arruda.

Uma imposição indevida, como se sabe, do Diretório Nacional do PFL. Para quem não se lembra, em 2006 Arruda se lançou pré-candidato ao governo do Distrito Federal pelo PFL. Teve que enfrentar dois empecilhos ao seu projeto de chegar ao Buriti. Por um lado, a vontade do ex-governador Joaquim Roriz, que há muito não confiava no chorão e queria lançar como candidata à reeleição a governadora em exercício, Maria de Lourdes Abadia. A outra dificuldade era o então senador Paulo Octávio, que também tinha grandes possibilidades junto à população. Através de uma intervenção indevida e espertalhona do Diretório Nacional, articulada pelo então presidente do PFL, Jorge Bornhausen, o partido no DF foi obrigado a romper com a base de Roriz, acabando por lançar uma chapa dita “puro sangue", em que Arruda era o candidato ao governo e Paulo Octávio, muito tímido politicamente, teve que se contentar em ser apenas o vice. O acordo era que Arruda se comprometia em não se candidatar à reeleição em 2010. Promessa que todos sabiam que não cumpriria. Só o ingênuo Paulo Octávio caia na balela . Depois, com Arruda já eleito, o único governador do decadente PFL, foi de Borhausem a pressão para infestar o secretariado do GDF com figurinhas corruptas e estranhas ao cenário político local – e desempregadas e sem votos - do DEMO, como Cássio Taniguchi e Cia.
Ao longo de 2009, Arruda já não escondia de ninguém que seria novamente candidato. Desde então, as relações de PO e Arruda, que já não eram nada boas, se tornaram insuportáveis. Paulo Octávio nunca foi da turma do governador e do seu núcleo corrupto de poder, fato que o legitima hoje. Nos últimos tempos, para quem conhece PO, o vice-governador não podia nem ouvir falar de Arruda.
Mas, o importante dessa história toda é que a máfia do DEMO em Brasília foi finalmente desbaratada. Não há nenhuma imagem ou prova concreta de que PO estaria metido na sujeira. Há apenas um assessor espertalhão se utilizando de seu nome, coisa que pode acontecer com qualquer político. Prova mesmo... nada! Se tivesse culpa no cartório, com certeza Paulo Octávio iria querer tirar o seu da reta. Iria fugir dos holofotes e não iria atender ao pedido de Lula para que permanecesse no centro da crise em nome da governabilidade e da tranqüilidade das próximas eleições. Iria querer preservar seus negócios empresariais diante da possibilidade de uma devassa. A verdade é que, renúncia, em momento de grave crise, é atestado de culpa. É coisa de quem deve algo, de quem tem culpa no cartório. Deixando bem claro que não será candidato a governador e se sacrificando até que o Supremo tome uma decisão, PO tem tudo para ter o reconhecimento dos cidadãos do DF e talvez, quem sabe, ser candidato a governador em 2014. Só tem que ser um pouco mais cauteloso com as companhias, escolher um partido menos ruim e, claro!, ter um pouco mais de coragem. Coragem e convicção não fazem mal a ninguém.

*Historiador e analista político em Brasília

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