sexta-feira, 26 de março de 2010

José Sarney

Jornal x Internet

A grande discussão hoje no mundo da comunicação é saber quando a internet matará de vez o jornal escrito em papel, na forma convencional que conhecemos. O professor de jornalismo Philip Meyer, citado por José Luís Barberia (El País), depois de examinar o fechamento de jornais, a diminuição de leitores, a migração de anúncios para a web, profetizou a data de outubro de 2044 para o desaparecimento do último leitor de jornal.
Eu, por meu lado, concordo com Élio Gaspari quando há alguns anos afirmou que o livro e o jornal jamais acabarão. Eles resistirão às novas tecnologias. Mas, acrescento, com algumas mudanças importantes. Bill Keller, do New York Times, talvez tenha sintetizado essas mudanças com o conceito de “união objetiva”: a sobrevivência do jornal está em ser sério, pensar na sociedade, alicerçar sua credibilidade na precisão da informação, deixando de lado velocidade e sensação, terreno em que não tem como competir com as outras mídias, principalmente a internet. A vitória do jornal será o bom jornalismo, bem feito, com grandes jornalistas, sobre o mau jornalismo de profissionais medíocres e conteúdo duvidoso ou irresponsável. Esse será o embate, menos tecnológico e mais de recursos humanos. A diferenciação entre o internauta descompromissado e o jornalista sério. Entre o jornalismo de sensação e em tempo real e a análise da notícia, bem construída. Isso também pode se fazer na internet, mas, se o jornal não fizer melhor, se não morrer, será mídia marginal.
Fiquei espantado na semana passada quando recebi uma pesquisa política e, pela primeira vez nas respostas, como as pessoas conhecem os fatos, aparece a web. No único Estado brasileiro que tem uma população rural de 40%, o Maranhão, dá TV, imbatível, 80%, mas internet, 4,3%. Ora, se começa assim seu alcance, o que virá depois?
O problema da internet é que o volume de informação que ela nos oferece é tão grande que é impossível saber onde está a verdade. Mas se “não foi a internet” que inventou a mentira, se tornou difícil viver tendo que procurar onde está a verdade. Hoje os acessos a alguns sites e blogs, a algumas “comunidades” são muito maiores que a tiragem dos grandes jornais.
Chateaubriand dizia que os jornais não morrem de enfarte fulminante, mas de doenças que no mínimo levam 10 anos. Uma delas é a política, outra a idiossincrasia. Jornais políticos perdem leitores e a credibilidade, e os que têm idiossincrasias com pessoas e escolhem inimigos para serem bajulados também contraem o vírus da morte.
Finalmente, como o rádio e a TV não mataram o jornal, a internet não o matará. Só quem pode matá-lo é ele mesmo, querendo ser internet ou fazendo mau jornalismo.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa

jose-sarney@uol.com.br

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