segunda-feira, 29 de março de 2010

Na Mira do Belmiro

A academia, a economia e o beiradão

O dossiê sobre ocupação e perfil da mão-de-obra no Amazonas, publicado na edição de domingo do Diário do Amazonas, trouxe pauta emergencial de reflexão e mobilização dos atores públicos e privados na perspectiva de ajuste das distorções apontadas. Uma delas é o saldo negativo na geração de emprego no interior e outra é que não há registro de funcionário com nível doutorado nas empresas do pólo industrial de Manaus. Doutorado é o patamar de pós-graduação que se segue ao mestrado na carreira acadêmica e traduz um grau sofisticado de conhecimento e especialização que confere ao profissional sólida autoridade no setor de conhecimento respectivo. O fato remete à especulação que investiga as razões da ausência dos nativos em cargo de direção ou gerência das empresas. E, de quebra, permite indagar sobre a eficácia do modelo de qualificação acadêmica que recebeu investimentos substantivos e incentivos extraordinários na última década, tanto para a capital como para o interior.
Qual a relação entre a inexistência de vaga para especialistas de alto nível no distrito e a falta de atividade econômica no interior, onde vive 45% da população sem perspectiva de trabalho nem o que fazer com as discretas oportunidades de treinamento e qualificação disponíveis? As duas paisagens sociais e educacionais se completam no avesso das distorções de uma economia que precisa urgentemente interiorizar e diversificar suas atividades e foco. A demora para essa intervenção pode ser observada nas estatísticas da criminalidade e na incapacidade do poder público de atender com equipamentos adequados as demandas de saúde, educação, segurança e moradia que esse quadro traduz, notadamente na capital, para onde correm os jovens atrás de oportunidades.
É preciso deixar claro que o segmento empresarial faz sua parte, comparecendo com os impostos e demais exigências da legislação em vigor. Basta lembrar os 5% do faturamento que a indústria direciona para pesquisa e inovação tecnológica que a Lei de informática determina e outros repasses que viabilizam, por exemplo, o funcionamento da Universidade Estadual. A qualidade do ensino e sua orientação técnica e pedagógica extrapolam suas atribuições e margem de decisão. Cabe, apenas, perguntar sobre a eficácia da proposta educacional em vigor e seu grau de envolvimento com os objetivos e metas do setor produtivo e, principalmente, com o futuro social e econômico do Estado e de nossa gente, em especial dos que vivem nesse beiradão esquecido. Eis um tema/problema da maior relevância para o debate eleitoral e para quem planeja uma uma nova ordem sócio-econômica, um desafio inerente a todos nós.

Zoom-zoom

· Malária – O sonho de Oswaldo Cruz de encontrar saída para a tragédia da malária começa a materializar-se nas pesquisas de laboratório do Amazonas. O doutor em biotecnologia Sérgio Lopes Albuquerque sacudiu a comunidade científica mundial com os avanços de sua pesquisa na direção da esperada vacina. Uma solução que vai aliviar muitos estragos e dor nas regiões tropicais do mundo inteiro.

· Desafios históricos – Os grandes projetos da Amazônia esbarram justamente na dificuldade do engenho humano conhecer e conviver com as leis da natureza nos trópicos, desafios, vantagens e possibilidades. A malária tem sido um exemplo de dificuldade que ceifou milhares de vida. Uma paisagem que deve mudar substantivamente com a descoberta da vacina.

· Lei Seca – A revista Veja trouxe uma reportagem sobre o afrouxamento da fiscalização em torno da Lei Seca, razão do recrudescimento das estatísticas de violência e morte no trânsito, onde as principais vítimas entram sem saber ou querer nesse teatro de tragédia.

· Bafômetro – o DETRAM-AM praticamente suprimiu a fiscalização ostensiva dos primeiros meses, cujos resultados levaram à metade as estatísticas do sofrimento e da dor. Falta bafômetro ou vontade política para intervir nessa anomalia social?

Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

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