quinta-feira, 15 de abril de 2010

Na Mira do Belmiro

Compromisso Manaó

Reveste-se de muita expectativa e ansiedade cívica o ensaio de retomada das ações compartilhadas entre o estado e a prefeitura, a decantada ação conjunta. No início da semana, o governador Omar Aziz e o prefeito Amazonino Mendes acenaram com esta possibilidade num encontro que pôs em pauta o imperativo de comunhão administrativo entre as duas instâncias de poder. Nos últimos anos, os entes federativos atuaram paralelamente, sem buscar ou criar pontos de intercessão funcional para somar e otimizar recursos, talentos, desafios e avanços. Uma insensatez e a certeza de grandes danos para a população, notadamente a mais desguarnecida financeiramente, as famílias que dependem dos equipamentos públicos para educar seus filhos, cuidar de seus idosos, zelar pela saúde, moradia e segurança.
É oportuno lembrar que o cidadão que utiliza a malha pública de transporte, sucateado, apinhado, impontual e inadequado sob vários pontos de vista, é freqüentemente o mesmo que trabalha no distrito industrial, no comércio ou outra atividade formal e faz mover uma máquina que alcança índices de destaque na economia nacional, contribuindo com mais de 40% de impostos para o poder público, o que tem determinado seguidos recordes de arrecadação tributária. No caso de Manaus, onde é gerada mais de 90% das riquezas do Estado, este cidadão fica à mercê dos recursos municipais para atenuar alguns dos problemas urbanos que lhe atravancam a vida, lhe tiram o sono e o rumo. A ação compartilhada entre os entes federativos, portanto, não pode ser vista como concessão de um deles. É uma imposição cívica e uma obrigação funcional de todos que são remunerados pelo contribuinte e lhes deve zelo e atenção.
É caótica a paisagem urbana de Manaus em muitos pontos da região central e dos bairros. O glamour do Largo São Sebastião contrasta com o inferno urbano do Bairro do Céu, no Centro antigo, onde fica a zona do meretrício e os escombros de nossa memória destruída: seqüelas vivas e desconcertantes desses desacertos institucionais, a chamada síndrome Pôncio Pilatos, em que Município, Estado e União se revezam no gesto omisso de lavar as mãos do destrato cívico. Um descaso inaceitável em relação àquele que lhes confere sentido e razão de existência e permanência funcional: o cidadão. Daí a euforia geral com a possibilidade dos velhos amigos Omar e Amazonino retomarem em outro nível a ação emergencial, afetiva, passional e moral em favor de Manaus, do ensino, da memória, dos eq uipamentos públicos, das calçadas e dos transportes... São 9 meses de ensaios, suficientes para gerar um rebento de esperança, que possa servir na continuidade e solidez deste sagrado e permanente compromisso Manaó.

Zoom-zoom

· Camelôs – A perspectiva de remoção dos vendedores das vias principais de Manaus, conforme anúncio da prefeitura, movimenta todo o tecido social da cidade. Isso significa devolver a cidade a seus habitantes, as calçadas aos transeuntes e a beleza de Manaus a todos os nativos e visitantes. A medida requer respaldo público e muito jeito para tratar os ambulantes com respeito, dignidade e solidariedade.

· Corujinhas – Outra notícia alvissareira é a retirada das lombadas eletrônicas que foram transformadas em verdadeiros caça-níqueis do poder municipal. Mais do que outra solução paliativa, Manaus precisa de engenharia horizontal, vertical e semafórica simultaneamente a iniciativas de educação cívica para o trânsito e qualificação maior para o setor responsável.

· Praça da Saudade – depois de mais de dois anos de expectativa, o Largo da Saudade está de volta, fruto da rara ação compartilhada dos três entes federativos. Uma referência dos primórdios da Instalação da Província e marco arquitetônico consolidado no Ciclo da Borracha.

· Mercado Grande - Agora é esperar pelo Mercado Adolpho Lisboa, que a população chama de Mercado Grande, talvez para não relembrar a memória sanguinolenta e autoritária de quem emprestou o nome e da época de obscurantismo que o personagem representa para a história do Amazonas. O atraso de sua recuperação é danoso mas já está perto do fim.

Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário