sábado, 11 de dezembro de 2010

Na Mira do Belmiro

Profecia e estripulias no beiradão

Na tradição bíblica, o profeta Daniel é um dos privilegiados pela generosidade de Javé, que o manteve íntegro e salvo na cova dos leões - aonde foi atirado por seus perseguidores - e reconhecido por sua obstinação em construir a ordem social e o sonho da libertação do povo hebreu. A alegoria dessa cova descreve a desonestidade, a injustiça e violência contra as quais os profetas se mobilizaram no Livro Sagrado para anunciar a Terra Prometida. Daniel, também, é o nome de um visionário de mundo novo para o beiradão amazônico, que dirigiu o município de Tapauá em quatro oportunidades, pela força do crivo popular. Daniel Albuquerque num de seus livros – Tapauá, a primeira geração - colocado graciosamente na web, conta a história da fundação e lutas desse município, localizado na calha do rio Purus. Ali, o profeta ribeirinho fez a expe riência da cova do isolamento e da omissão dos poderes constituídos e provou que, apesar ou por causa disso, é possível combater os leões da contravenção e trabalhar pela conquista da educação, saúde e oportunidades, as pré-condições de prosperidade na sonhada Terra Prometida. Na semana passada, o 16º prefeito do interior do Amazonas foi cassado pela justiça. E as razões se diferenciam apenas no detalhe, pois, na essência, as ilegalidades são sempre as mesmas. Não cabe indagar eventuais distorções ou injustiças no processo formal de julgamento. O que se destaca é o sobressalto da cultura da corrupção e do desmando que se espalhou como epidemia letal na gestão dos cofres públicos e que agrava mais ainda as desigualdades crônicas entre a capital e o interior e deteriora no limite os já constrangedores Índices de Desenvolvimento Humano- IDH dos municípios do Amazonas. Recursos da educação, que poderia ser transformadora, e da saúde como requisito de luta e identificação de saídas, são apropriados em esquemas de repartição de propinas que fazem lembrar a disputa perversa da carniça entre famintos urubus. Em ‘Tapauá...’ Daniel descreve a epopéia e o sonho de assegurar as condições básicas de funcionamento e disseminação do processo educacional, “...nos mais remotos recantos da imensa floresta virgem; a falta de mentalidade educacional dos pais na sua maioria analfabetos ou precariamente alfabetizados; a distância, inimiga invisível e inexorável da Amazônia; e, ainda, a falta de auxílio ou ao menos equacionamento do problema, pelas autoridades estaduais e federais que, acovardadas, preferem ignorá-lo”. Além de ficha limpa - não há um registro sequer nos tribunais de auditoria contábil e legal do estado ou do país que desabone a figura e a trajetória político-administrativa de Daniel - ele mostrou o que é um gestor devotado ao interesse comum, comprometido com a promoção integral do cidadão ribeirinho, um dever de rotina que virou exceção e raridade no beiradão da contravenção....até quando?

Zoom-zoom

Arena Amazônia – o governo do Estado avançou nas tratativas federais de viabilização financeira da estrutura esportiva e urbana para a participação do Amazonas na Copa da FIFA de 2014. São recursos públicos que precisam ser aplicados com o foco permanente do interesse geral. O risco das obras serem transformadas em elefante branco permanece e se configuraria numa distração imperdoável.

Ressalvas e inquietações - Ainda é tempo de assegurar as condições de manutenção, funcionamento e retorno para os empreendimentos. No caso da Arena, pra manter os gastos de conservação serão necessários 4 eventos mensais com 25 mil usuários nas bilheterias. A tradição futebolística local rema ao contrário dessa expectativa, que carece de especial atenção.

Ministros do Estado – A semana está sendo marcada pelas expectativas do Estado seguir integrando a Esplanada dos Ministérios. Alfredo Nascimento e Eduardo Braga, a despeito das diversidades políticas internas, têm chance de representar os interesses do Amazonas no planalto. Essas diferenças atrapalharam algumas conquistas cujos avanços dependeram do entrosamento local, cada vez mais distante.

Bancada federal – apesar da decantada afinidade e especial atenção do governo Lula que se encerra e o da presidente Dilma que se inicia em relação ao Amazonas, a representação federal do Estado ficou devendo na costura efetiva dos interesses locais. Basta ver os entraves logísticos, de comunicação e de energia que ora emperram o modelo. É hora de avaliar e combinar mais entrosamento, ousadia e determinação.

Belmiro Gonçalves Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas
belmirofilho@belmiros.com.br

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