terça-feira, 30 de julho de 2013

Colunista lambe-botas do tucanato paulista tenta desacreditar família Sarney


Por Said Barbosa Dib*

Na noite passada (29/07), a coluna preconceituosa do lambe-botas do tucanato paulista, Augusto Antunes, da Veja, repercutindo matéria insólita de domingo de Reynaldo Turollo Jr, da Falha de S. Paulo, publicou artiguete intitulado “A galeria da blasfêmia”, tentando ridicularizar a família Sarney e desmoralizar a Fundação da Memória Republicana, com trechos chulos e irresponsáveis como estes (destaques nossos):

“Para abrigar alguns badulaques e quinquilharias que lembram a passagem do patriarca pela Presidência da República, a Famiglia (sic) que há 50 anos suga, sangra e sufoca o Maranhão decidiu criar a Fundação José Sarney. Para que a entidade se instalasse num endereço à altura do poderio do clã, o mais ilustre maranhense expropriou o Convento das Mercês. Foi assim que uma relíquia da arquitetura colonial virou sede do bando (...).

A descoberta do acervo de maracutaias que reduziram um convento a cabaré secou a cachoeira de donativos suspeitíssimos e verbas federais irregulares que sustentavam a Fundação (e engordavam as contas bancárias dos novos proprietários, começando pelo senador do PMDB promovido por Lula a Homem Incomum). Em vez de correr atrás do prejuízo, o pai da governadora ordenou que a conta fosse repassada aos moradores da capitania hereditária. E Roseana Sarney incorporou ao patrimônio público a instituição privada em apuros.

Em primeiro lugar, o senhor Augusto Nunes deveria ser menos preconceituoso com o povo do Maranhão e se informar melhor. Não pega bem falar em “50 anos que suga, sangra e sufoca o Maranhão”. Isto é mentira, simplificação e desprezo com o povo do estado. José Sarney governou entre 1965 e 1970. Roseana, em dois governos seguidos, entre 1995 e 2002 (não vamos considerar o atual). Foram os períodos mais fecundos em termos de desenvolvimento efetivo do Maranhão. As realizações foram tão substanciais que a população passou a associar “bom governo” aos “Sarneys”. 

Senão, vejamos os fatos:

Governo José Sarney (1965-1970)

José Sarney, no tempo em que foi governador, foi apoiado por esquerdistas de então, como Glauber Rocha (que fez campanha para o Sarney) e a chamada “Bossa Nova da UDN. Com um estilo próprio de governo – popular, dinâmico e modernizador -, recebia em audiências diariamente dezenas de pessoas dos mais variados setores da população e provocou, segundo Veja (11/3/70), uma “revolução na administração”, chamada de “milagre maranhense”. Os investimentos decuplicaram, aumentando em 2.000% o orçamento do estado, mudança que nunca mais viria a acontecer. O novo governador sabia que era necessário compensar anos de atraso provocado pelo “vitorinismo”. Por isso, foi construída a usina hidrelétrica de Boa Esperança, na fronteira sul do Maranhão com o Piauí, pela Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança (Cohebe), que passou a fornecer energia a cerca de 40 cidades do interior dos dois estados e parte do Ceará. Ainda segundo Veja (4/2/1976), nos quatro anos da administração Sarney o Maranhão deu um salto: o estado pulou de zero para quinhentos quilômetros de estradas asfaltadas – e mais dois mil quilômetros de estradas de terra -. Criou-se, além disso, uma rede de telecomunicações cobrindo 85 municípios; elevou-se de um para 54 o número de ginásios estaduais e ampliaram-se de cem mil para 450 mil as matrículas escolares. No início de 1970, Sarney inaugurou, com uma assistência de cem mil pessoas, a ponte de São Francisco, sobre a foz do rio Anil, ligando a ilha de São Luís – onde fica a capital – ao continente. A construção da ponte já havia passado ao domínio da lenda, pois se estendera por vários governos. A construção do porto de Itaqui, a barragem do rio Bacanga e o planejamento da cidade industrial foram outras iniciativas. Por tudo isso, a oposição não se cansa de estrebuchar. Precisa sempre dos lobby´s preconceituosos da industria paulista para menosprezar o que é positivo para os povos do Norte e do Nordeste.

Governo Roseana Sarney (1995-2002)

A sucessora política de José Sarney, sua filha Roseana, mesmo tendo recebido menos recursos do governo federal nos quatro anos do seu segundo mandato, os resultados práticos da sua gestão são impressionantes, principalmente na área da educação, que é a mais importante quando se tem preocupação com a questão social. Pelos relatórios publicados pelo PNUD/IPEA, facilmente acessados pela Internet, no que se refere aos gastos totais com “Educação e Cultura”, de 1995 a 2002, período que correspondente aos dois primeiros mandatos da governadora Roseana Sarney (em valores da época), o Maranhão chegou muito próximo da universalização no atendimento do ensino fundamental. 96% das crianças de 7 a 14 anos passaram a freqüentar a escola. No Ensino Médio, o estado conseguiu uma expansão nunca antes registrada, quando a oferta de vagas foi dobrada. O número médio de anos de estudo, para a população acima de 25 anos, em 1995, quando Roseana Sarney iniciou o seu primeiro mandato, era de 3,2 anos. Em 2003, quando terminou o segundo mandato, já era de 4,3 anos de freqüência em salas de aula. Um aumento de 1,1 ano no período – índice maior do que a média de crescimento do Nordeste, que foi de 0,93 ano estudado. Em todo o Brasil, o Maranhão da “oligarca” Roseana ficou atrás apenas de Sergipe, que teve um crescimento de 1,32 ano de estudo. Quanto à urbanização, Roseana também se destacou bastante. Pelo percentual de pessoas que vivem em domicílios urbanos com serviço de coleta de lixo, em 1991, era de apenas 26,32% da população, passando para 53,25% no ano 2000. Aumento de 26,93%, sendo o estado que mais cresceu no período não só no Nordeste, mas em todo o País, neste aspecto. No Amazonas, por exemplo, com população concentrada em Manaus, a expansão foi muito inferior no mesmo período, saltando de 60,02% para 78,23%, um acréscimo de apenas 9,87%. Assim como na coleta de lixo e no caso do tratamento de esgoto, na escala convencionada pelo IPEA, de 0 a 1, verificando-se o percentual da população que vive em domicílios com abastecimento adequado de água, o Maranhão evoluiu de 0,31%, em 1995, quando Roseana Sarney assumiu seu primeiro mandato, para 0,54% no final de seu segundo mandato, em 2003. Uma melhoria de 0,23%. Foi o terceiro maior aumento entre todas as unidades federativas. Perdeu apenas para o Ceará e o Tocantins. O Ceará, governado pelos tucanos, foi um dos estados que mais recebeu ajuda de FHC nos anos 90. Por isso, passou de 0,45% em 1995 para 0.70% em 2003, uma melhoria de 0,25%, pouco mais do que o Maranhão. Pelos percentuais de pessoas ocupadas com carteira de trabalho assinada, segundo dados do IPEA, no período compreendido entre 1995 e 2002, o Maranhão passou de 0,29% em 1995, para 0,36% em 2002, tendo um aumento de 0,12%, disparadamente o melhor resultado de todo o Brasil no período – a média brasileira é de 0,04%.

Sarney x FHC: comportamentos muito diferentes

Em segundo lugar, antes de criticar o estadista José Sarney, Augusto Antunes deveria fazer uma necessária diferenciação entre a forma de agir do ex-presidente maranhense com o comportamento nada republicano do tucano Fernando Henrique Cardoso, cantado em verso e prosa pelo pseudojornalista da “sujíssima Veja” (royalties para Helio Fernandes). Diferente de José Sarney, que doou seu patrimônio pessoal para o Maranhão, quando poderia fazê-lo para qualquer outro museu da capital federal, o tucano-mor tomou outro rumo nada digno de um homem que foi presidente da República. Nunca é demais lembrar que, na edição 234, de 11 de novembro de 2002, a revista “Época”, com o título de capa “FHC passa o chapéu”, mostrou que o ainda então presidente da República tucano reuniu empresários para levantar R$ 7 milhões para ONG que bancaria palestras e viagens suas ao Exterior em sua aposentadoria. A revista mostrou que foi em noite de gala, dizendo: “Fernando Henrique Cardoso reuniu 12 dos maiores empresários do país para um jantar no Palácio da Alvorada, regado a vinho francês Château Pavie, de Saint Émilion (US$ 150 a garrafa, nos restaurantes de Brasília). Durante as quase três horas em que saborearam o cardápio preparado pela chef Roberta Sudbrack - ravióli de aspargos, seguido de foie gras, perdiz acompanhada de penne e alcachofra e rabanada de frutas vermelhas -, FHC aproveitou para passar o chapéu. Após uma rápida discussão sobre valores, os 12 comensais do presidente se comprometeram a fazer uma doação conjunta de R$ 7 milhões à ONG que Fernando Henrique Cardoso passará a presidir assim que deixar o Planalto em janeiro e levará seu nome: Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC)”. A convocação de empresários para doar dinheiro a uma ONG pessoal do presidente, ainda com a possibilidade de assinar o Diário Oficial, constituiu o diferencial da atitude de ex-presidentes tão diferentes como FHC e José Sarney. O primeiro usou o Estado para benefício próprio para garantir suas viagens ao exterior, não para beneficiar o povo brasileiro. O segundo usou seu próprio patrimônio pessoal para beneficiar um dos mais importantes interesses públicos: a cultura. São formas radicalmente diferentes de se encarar a vida pública. 

Senão, vejamos:

Museus de ex-presidentes: ao invés de enlatados culturais, esta seria uma boa idéia “ianque” a se copiar

Por Said Barbosa Dib*

Toda nação desenvolvida tem um ponto em comum inquestionável: o respeito, independente de ideologias e interesses específicos, aos seus líderes e figuras históricas, vistas sempre como exemplos a serem seguidos. Nos EUA o patriotismo e o amor pelas raízes históricas são quase obsessão. Lá é costume ex-presidente, por ter tido acesso a documentos históricos importantes, por ter participado ativamente de reuniões e eventos decisivos para a pátria, criar uma fundação com o objetivo de se preservar documentos e acervos históricos e catalisar na população o debate sobre temas importantes para o país. Esta tradição, mantida por quase todos os ex-presidente dos EUA, começou vinculada à criação da própria biblioteca do Congresso norte-americano. Criada em abril de 1800 para atender às necessidades dos deputados e senadores norte-americanos, a “Biblioteca do Congresso”, hoje a mais completa do mundo, teve seu destino alterado por força do acaso. Em 1814, tropas inglesas incendiaram o Capitólio, destruindo os 3 mil volumes sobre política, economia e história que compunham o acervo. Thomas Jefferson, terceiro presidente dos EUA e apaixonado por livros, ofereceu sua coleção com 6.487 exemplares, versando sobre arte, arquitetura, literatura, entre outros assuntos, por 23.940 dólares. Para isso, criou uma fundação, com o apoio do governo federal, para que fosse garantida a preservação e ampliação dos acervos. Hoje, a mesma fundação criada por Thomas Jefferson administra não só o acervo doado, mas toda a biblioteca. Tanto na França quanto na Alemanha é também costume ex-chefes de governo ou de Estado constituírem, sempre com o apoio do Estado, suas fundações, quase sempre localizadas em espaços cedidos pelos governos. Os exemplos são muitos, como a “Fundação François Mitterrand”, a “Fundação Conrad Adenauer”, a “Fundação Giscard Destaing”, etc. 

A “Fundação Sarney”: primeira experiência na América Latina

O primeiro e único presidente brasileiro que decidiu dividir seu patrimônio pessoal com a sociedade brasileira foi o também intelectual José Sarney, notoriamente envolvido com a área cultural há bastante tempo. Seguindo o exemplo de Thomas Jefferson – sem, ao contrário, ter cobrado nada por isso – criou a “Fundação Sarney”, primeira entidade cultural instituída nos moldes das bibliotecas presidenciais norte-americanas em toda a América Latina. Como centro de estudos e pesquisas políticas e sociais, está localizada no Convento das Mercês - até então quase abandonado e sem uma função definida que fosse à altura de sua importância histórica-, esta monumental obra da arquitetura religiosa mercedária foi inaugurada em 1654 com o “Sermão de São Pedro Nolasco, do Padre Antônio Vieira, que então fez a profecia, hoje realizada: “aqui tragamos nossas memórias”. Mas a Fundação não foi criada apenas para preservar e divulgar o acervo doado pelo ex-presidente. Ela é composta tanto pelo “Memorial José Sarney”, quanto pelo “Centro Modelar de Pesquisa da História Republicana”, para preservar dados de todas as presidências; pelo “Instituto da Amizade Latino-Americana” e pelo “Instituto de Amizade dos Povos de Língua Portuguesa”. Assim como o acervo de Thomas Jefferson se tornou a própria Biblioteca do Congresso norte-americano, as funções, o acervo e a importância da “Fundação Sarney” se ampliaram e, hoje, abarcam várias áreas de interesse do povo brasileiro e vem servindo, também, para o desenvolvimento do turismo e da cultura no Maranhão e, de lambuja, viabiliza a preservação do espaço histórico do convento.

O acervo e sua importância para o Maranhão e o Brasil

A Fundação promove, cumprindo seus objetivos, seminários, pesquisas, congressos, cursos, encontros internacionais; publica livros e documentos relacionados com a história política do Brasil, dos países da língua portuguesa e latino-americanos, bem como o estudo sistemático de problemas sociais e políticos. A Fundação abriga acervo, doado pelo Presidente Sarney, de 40.000 livros; e mais de 500.000 documentos; destes, 80.000 manuscritos; 70.000 recortes de jornais (clippings, charges, sinopses); 70.000 cartas enviadas de todos os quadrantes do País. O acervo audiovisual corresponde a 18 mil negativos, 1.500 filmes de 16 mm, milhares de slides, discos, álbuns fotográficos, 4.000 horas de fitas VHS e V-MATIC. Acervo museológico de 2.500 peças, arte sacra, esculturas, quadros e artesanato de vários países. Gravuras, mapas antigos, obras raras e manuscritos de grande valor, destacando-se os originais de “Espumas Flutuantes”, de Castro Alves, Sermões de Pe. Antônio Vienra, originais de Eça de Queirós, Jorge Amado, Odorico Mendes, Camilo Castelo Branco, Tomás Antônio Gonzaga, entre muitos. Tudo isso, um patrimônio que não está enclausurado, egoisticamente, como um patrimônio pessoal de um ex-presidente, mas como patrimônio histórico que está socialmente contribuindo com a identidade da sociedade maranhense e de todo o povo brasileiro. Em 2008, 137 mil pessoas visitaram a FJS e registraram seus nomes no livro de presença.

As lamentações dos derrotados e o ódio à cultura

Porém, há pouco tempo, com a “Fundação Sarney” em pleno funcionamento, por filigranas jurídicas que envolveram a transferência do usufruto do Convento das Mercês, setores minoritários e que nunca conseguiram se afirmar politicamente junto ao povo maranhense, procuraram inviabilizar a iniciativa do ex-presidente Sarney. Com base em argumentos simplistas e pouco esclarecidos do Ministério Público maranhense, tucanos do estado procuraram tirar proveito partidário que poderiam prejudicar o funcionamento de tão bela iniciativa cultural, desconsiderando, por completo, a necessidade de se separar interesses pessoais do interesse geral. A lei estadual, votada pela Assembléia Legislativa do Maranhão em novembro de 2005, durante o “governo” José Reinaldo, foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal no dia 19 de dezembro do mesmo ano, e baliza qualquer decisão futura da justiça. 

* Said Barbosa Dib é historiador, analista político e, com muito orgulho, assessor de imprensa do senador Sarney.

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